Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.
Na �poca em que tinha cerca de um metro e vinte de altura, muitas coisas me aconteceram. Meu pensamento na �poca era um tanto diferente do que � hoje, mas n�o muito n�o. Lembro dos brinquedos da inf�ncia e de como era legal brincar com eles. Brincava de playmobill, de carrinho. Existiram v�rios tipos de carrinho, a o melhor deles era o carrinho a controle remoto. Que sensass�o maravilhosa, controlar um carrinho sem nenhum fio ligando o controle remoto ao carrinho. O controle remoto sem d�vida foi uma inven��o maravilhosa, lembro que um amigo, o Rodolfo tinha um video cassete com fio, algo realmente pat�tico. Al�m disso o controle remoto permitia trocar o canal da televis�o sem precisar do triste esfor�o de se levantar para trocar de canal.
Mas o carrinho a controle remoto que era o que havia de melhor. Era lindo, quanto prazer havia me dado, era dif�cil de enjoar de brincar.
Todos os carrinhos anteriore me enjoavam facilmente, certa vez ganhei do meu av� um carrinho chamado vai e volta. Era o seguinte. Voc� jogava o carrinho e ele voltava. N�o precisava de pilha nem nada. Adorei quando ganhei. Fiquei uns quatro dias seguidos, o dia inteiro, jsentado no ch�o, jogando o carrinho, que andava uns dois metros, e depois voltava. Mas depois de quatro dias fiquei completamente entediado, enjoado de ficar jogando o carrinho para ele voltar. Da� deixei de lado este brinquedo e fui brincar com o outro. Bom, a conclus�o que tirei disso � que tudo enjoa. Tudo, com excess�o talvez de beber �gua, esse tipo de coisa. Mas mesmo as pessoa nos enjoam. Ficar junto com uma mesma pessoa durante muito tempo sempre acaba enjoando. Comer todo dia a mesma comida sempre acaba enjoando. Comer uma �nica pessoa, tamb�m acaba enjoando. � verdade que cerveja n�o enjoa. Sei l�. Mas posso dar muito mais exemplos de coisas que enjoam, reduzindo o grupo das coisas que n�o enjoam a uma quantia rid�cula, que d� pra contar nos dedos. Essa � a verdade, logo temos certeza.
5:30 PM
segunda-feira, agosto 26, 2002
Meu amado senhor
10:52 PM
Mundo Animal
O mundo � c�o para uns, e felino para outros.
Quando o desejo recai sobre o outro ( que � o "eu que n�o sou eu" como dizia o fr�nces feio de �culos de fundo de garrafa cuja esposa n�o passava de bicha num corpo de mulher), a frusta��o n�o � s� poss�vel como tamb�m prov�vel, e junto com ela aquela raivinha do fui rejeitado: "eu, que sou t�o boa, como pode aquele rato recusar meu desejo...mas ele ainda sentir� sede na alma e ent�o cuspirei em sua boca".
Onde est� o devaneio? Ser� que arte de comer cebolas ser� difundida de uma vez por todas, ou continuaremos nessa in�rcia s�cio-pragm�tica?
Somos materialistas, c�ticos, e ao mesmo tempo engajados. N�o acreditamos em Deus, muito menos nessa baboseira de inferno e c�u. Mas devemos sem d�vida morrer por uma id�ia cient�fica fundada no materialismo: a revulu��o.
Sairei, convicto, andando descal�o ou de sandalhas pelas ruas e, de porta em porta, sacudirei toda "essa gente humilde, d� vontade de chorar", os pobres do Brasilz�o. Farei com que eles deixem de assistir por instantes o Domingo Legal, o Silvio, e "Bety, a feia". Invandirei a feijoada com caipirinha farei eles pegarem em armas.
E dando tiros para todos os lados, ir�o saquear os supermercados e o shoping center, apedrejar o Mac Donnald, para finalmente instaurar um sistema mais justo, mais justo que a democracia, uma tirania de pobres. E conhecendo a f�rmula "todo pobre � honesto e bom", bom porque gente trabalhadora. E essa gente humilde toma cacha�a com o intuito n�o de se divertir, porque pobre n�o se diverte, n�o sente alegria, apenas se reconfortam das dores de um trabalho hostil, quase escravo. Afinal, j� aprendemos que: "A pinga � �cio do povo".
O resultado �bvio da revolu��o � o que Brasil se tornar� pot�ncia mundial e n�o tera pra ningu�m. Que os Estados Unidos, aqueles porcos imperialistas, saiam de baixo, ou melhor, de cima. N�o haver� mais ricos e pobre, todos ser�o iguais, todos ser�o classe m�dia baixa e todo mundo ser� funcion�rio p�blico. A� as coisas come�ar�o de fato funcionar de verdade. Posso entrever a fam�lia universal. Todos ter�o um v�deo-cassete e locar�o muitas fitas nas locadoras. Uma em cada esquina, diga-se de passagem.
Hoje eu acordei muito nervoso. Passei o dia inteiro nervoso. Na verdade n�o era mero nervosismo, era um esgotamento nervoso. E esgotado, fiquei dirigindo, atendi, fui atendido, fui a v�rios lugares in�teis, fiz v�rias coisas in�teis. Mas bem de noitinha aconteceu uma coisa muito especial. Fiquei sentindo prazer. Durou uns bons minutos. � por isso que gosto tanto da vida. Os que me conhecem confirmariam. Qualquer um que me conhece bem sabe que amo a vida. N�o amo qualquer vida, diga-se de passagem. Amo sim a minha vida, incluido todas as vidas que nela se entrela�am com amor. Hoje a noite a abri a janela do meu quarto e senti o cheiro �mido da terra, e lembrei da meninice, quando rolava no barro.
Ando me sentindo muito mais burro que o normal esses �ltimos tempos. Tento convencer-me que s�o as m�s influ�ncias, professores, colegas, drogas. Mas a verdade � que ando me sentindo muito burro. Para falar bem a verdade, n�o ando apenas me sentindo burro. Estou cada vez mais constatando esse triste fato. A minha opini�o mais sincera sobre o assunto, se acaso algu�m est� interessado nela, � que a intelig�ncia � principalmente um estado de m um estado de esp�rito. H� dias em que pego textos dif�ceis e leio sem a menor dificuldade. Mas a maioria do tempo, n�o consigo sequer me concentrar. Estou lendo sobre l�gica n�o-aristot�lica, e estou apanhando muito. Estou lendo sobre a corrente ultra-racionalista dial�tica e tamb�m estou levando um couro dela. Peguei para ler um romance, Ulisses do Joyce, e j� estou cheio de hematomas. Talvez o meu problema � que gosto de apanhar. O problema � que na maioria dos casos eu um dia acabo entendendo e quando entendo chego a triste conclus�o que o que o autor estava querendo dizer era bem besta. Da� d� muita vontade de sair gritando por a� que �a verdade � uma mentira que n�o pode ser refutada� ou �uma teoria n�o � melhor que outra, o que acontece � que os defensores de uma teoria morrem.�
Seja l� como for, masoquismo ou esperan�a de algo novo, vou continuar esses esfor�os, que s� n�o s�o in�teis porque a alma � imortal, ao contr�rio do corpo. E a gente s� leva desta vida os nossos conhecimentos. Por isso que dizem alguns que � sensato se matar antes da degeneresc�ncia da mem�ria que um Alzeimer, por exemplo, pode causar. E � por isso que fumo.
Algu�m poderia me fazer uma grande gentileza de me enviar nos coment�rios uma cr�tica sobre a l�gica aristot�lica. Ou ao menos apontar algumas falhas. Ou, no m�nimo, zoar com ela. Agrade�o enormemente a colabora��o.
A� vai um silogismo do g�nero mais cl�ssico, o Barb�ra.
Aprendi hoje diversas coisas: que o brinquedo pe�o foi inventado no Egito e que o s�culo dezesseis foi um s�culo muito dedicado ao desenvolvimento de novas metodologias. Lembremos da d�vida hiperb�lica, que nada mais � que um m�todo. Da� o �como� era mais importante que �o que�. A forma mais importante que o conte�do. De fato, se inventassem uma regra perfeita de pensamento, uma l�gica perfeita, tudo estaria resolvido. Muitas vezes as pessoas chegam socando conhecimento para n�s. Da� temos sempre que perguntar: �D� onde voc� retirou esse pensamento, qual o m�todo que voc� empregou para se chegar a tal?� Fatalmente a pessoa para quem n�s dirigimos a pergunta sente um irresist�vel desejo de dizer: �do seu cu�. Mas n�o � o que costuma acontecer, pelo menos no meu caso, que sou musculoso e raivoso, e, assim, acabo intimidando o interlocutor.
J� faz muito tempo que meu pai diz sobre filosofia inspirada nas coisas da fazenda. �, ele mexe com fazenda e sempre conta sobre as coisas de l�. Ele me disse que �s vezes ficava no meio do curral para vacinar ou capar os bois, meditando sobre a vida e pensando na imensid�o de problemas quando uma vaca braba descontrolada ia babando para peg�-lo. Neste instante todos os problemas se apagavam e a �nica verdade era correr para subir na cerca para fugir do violento animal.
Faz-me lembrar do Aroldo, um goiano gente boa que fazia f�sica. Ele dizia que as coisas sempre podem piorar. L�gico que muita gente j� disse isso, que muito gente ainda diz isso e provavelmente as futuras gera��es ainda dir�o. Mas a diferen�a � que Aroldo vivia este pensamento com uma seriedade tal que chegava a espantar. N�o era �da boca pra fora� que dizia isso. Era quase como uma id�ia fixa, um ponto arquim�dico sobre o qual constru�a todos os valores de sua vida. E � justamente nesta caracter�stica - de levar t�o a s�rio esse pensamento - que estava a sua originalidade, n�o no simples fato de ter o pensamento e recit�-lo de vez em quando.
J� me perguntaram porque pulmao cabeludo e j� respondi porque Pulmao Cabeludo. J� me perguntaram muitas coisas estranhas nesta vida. Mas de todas elas a mais estranha foi quando me perguntaram por que nasci, e como era antes de eu nascer. Respondi que n�o me lembrava muito bem desta data. Que mesmo lembrar do bercinho j� era dif�cil. Lembro-me no entanto da dificuldade que foi para nascer. Meu parto foi um parto dif�cil, os m�dicos tiveram que usar f�rceps. Minha cabe�a nasceu deformada e eu era um beb� horr�vel. Se hoje tenho vinte e tantos anos � por causa desta pequena engenhoca que algum maluco pragamaticista um dia inventou. Agradecimentos ao inventor do f�rceps.
9:56 PM
Hoje come�a oficialmente o blog
Espero que a partir de hoje, tendo resolvido todos os problemas relativos a hardware, software de meu PC, bem como tendo adquirido, por meio de ardorosos estudos, as no��es b�sicas para operar o template do blogger conforme a delicadeza de meu gosto, posso enfim me expressar de acordo com as leis da minha vontade. Farei, portanto, o contr�rio do que ando usando meu novo blog: usurpando, abusando, fazendo dele um local de testes inacabados, e, da�, sem um conte�do digno da aprecia��o de esp�ritos refinados, cansados de suportar grosserias baratas do dia-a-dia. Agora sinto que estou com caminho livre, que as paredes da casa est�o s�lidas, agora o meio por onde me expressarei est� ajustado com aquilo que tenho para expressar. De que serve �timos di�logos quando o ator que os expressa � incompetente, quando seu tom de voz � duro, pouco flex�vel, sua cad�ncia demasiadamente artificial? Este ator, diga-se de passagem, n�o possui aquele poder que tem os grandes atores de exercer no esp�rito dos espectadores um �xtase divino - algo como um poder que engole, por assim dizer, a alma dos espectadores, absorvendo a aten��o dos ouvintes, despersonalizando-os, e n�o obstante, tocando suas almas, manipulando suas emo��es conforme seu gosto.
Ser� o ator um monstro? Ou um mestre na arte da manipula��o das emo��es de si pr�prio e dos outros? O desenvolver de tais quest�es inevitavelmente esbarra o fen�meno da catarse. Mas antes de desenvolver estas complexas e perigosas quest�es, que o homem saud�vel normal busca escapar, julgo de fundamental import�ncia ater-nos na problem�tica da forma e do conte�do.
Um mal ator estragaria qualquer Shakeaspeare. Temos aqui uma vers�o reformulada do velho problema da forma e do conte�do. Todo conte�do necessita de uma forma. Apesar disso, a forma n�o pode ser igualada ao conte�do, s�o dois conceitos diferentes. A �gua pode ser gelo, vapor, etc. Mas o conte�do continua, apesar das diferentes formas (ou estados) a mesma. A boa e velha �gua.
O leitor pode contra-argumentar, lembrando que o pensamento pertence a uma outra classe fenomenol�gica, com diferentes predicados, por exemplo, o da iman�ncia. Ou ainda (num jogo de palavra mais cl�ssico) que o pensamento tem uma natureza que n�o a da mat�ria.
N�o h� problema algum nisto. Categorias como forma e conte�do possuem uma exist�ncia t�o robusta quanto o conceito de substancia. Estes s�o conceitos pilares, verdadeiros blocos gigantescos de pedra soltos um infinito de ilus�es.
Mentira, o �nico conceito que tem esse grau de solidez e quanto a sua solidez desafio qualquer um � o conceito de sexualidade. Mentira. � o de energia.
Bom, ta�, energia.
Tudo � energia.
Clich�. Ela veio at� mim, desnuda de bota preta, linda. Seus olhos inconscientes eram um furo na exist�ncia. Ela chegou bem perto de mim, que estava nu e em p�, e come�ou a ro�ar seus bicos dos seios rijos por sobre meu corpo na altura do t�rax. Nisso seu cheiro de f�mea mais parecia um delicioso perfume que demanchava o passado e o futuro, fazendo do presente, do instante aqui-e-agora tudo quanto h�. Nada me interessava que n�o fosse combinar minha alma com a dela. Aquela mulher de botas.
6:36 PM
sábado, agosto 10, 2002 Blogger
Que beleza estar na blogspot! As coisas aqui funcionam. Nova casa, nova vida.
Adoro frases de efeito. N�o que as frases acima sejam frases de efeito. Nem foi esta minha inten��o. Mas acho que as frases de efeito s�o muito mais interessantes que as frases sem efeitos. L�gico que existem frases e mais frases de efeito. Algumas s�o de efeito mas s�o bem ruins. Veja os filmes do Stephen Seagall (n�o sei se � assim que escreve). S� tem frases de efeito e cenas de explos�es e lutas.
Nesse momento me vem a mente algumas frases com as quais esbarrei em minha vida. Exporei algumas e n�o indicarei a autoria.
"M�e, seu cad�ver apodrece dentro de mim"
"A vida s� n�o � uma bosta completa por trazer inevitavelmente a morte"
"Egoista: uma pessoa que pensa mais em si pr�prio do que em mim"
"Se o universo � uma bosta, o cu de Deus � infinito"
"Amor � foda"
"Feio, sujo e malvado"
"Gordo, Grande e Goiano"
"Penso, logo existo"
"Deus todo poderoso, criador do c�u e da terra"
"O whisky � o melhor amigo do homem, � o cachorro engarrafado"
"Sejamos serenos, � comum falarmos mais e fazermos menos"
"A hist�ria � um pesadelo do qual eu quero acordar"
E assim vai, existem muitas delas, e um dia as pessoas s� v�o comunicar entre si com frases de efeito.
Quanta ironia! Ao lado dele, sentado no banco, se encontrava aquela mulher que s� pensava em dinheiro e gl�ria. Queria se vangloriar. Era muito vaidosa. Queria fazer inveja e da� a sua a��o s�bita de se casar com ele, por quem sentia tanto nojo. Enojava beij�-lo. Certa vez ela deitou na cama ao seu lado e abriu as pernas. Ele enfiou a pistola dentro e esporreiou. Seus olhos lacrimejavam e sua vagina rosa ardia. Quando muito chove vaza �gua-esgoto-porra pelos bueiros-bucetas. N�s paramos de justificar. O que � �. O que n�o � n�o �.
Era uma vez uma pessoa que vivia na beira de um lago. Ela acordava de manh� e ia pescar no lago e se alimentava de peixe. Ela gostava de peixe. Preparava o peixe de todas as formas, frito, ensopado e assado na brasa. Peixe n�o � carne vermelha e por isso � carne boa, com pouca toxina. Ent�o a pessoa era saud�vel. E viveu de modo saud�vel durante cerca de trinta anos. Foi com quarenta e nove anos que a pessoa foi comer carne vermelha, num rod�zio perto de sua casa. Comeu e gostou. Pouco tempo depois estava apaixonada pelo churrasco de picanha, com gordurinha e tudo. Ent�o ela se tornou menos saud�vel. Vinte e tres anos depois essa pessoa morreu e virou alimento para os vermes, que viraram alimento das bact�rias. A bact�ria � unicelular. E da� completa. Vive no nirvana, e nem sabe disso.Est� al�m do intelectualismo, e, no entanto, tem um grau razo�vel de complexidade. Mas, sabe-se, n�o possui livre arb�trio como a pessoa supracitada que comia peixe e depois vaca.
1:42 AM
Moral
Mas se a alma n�o se perpetua, a vida n�o � um meio, mas um fim em si mesma.
Se Deus n�o existe, tudo � poss�vel.
E de nada serve ficar se preparando para a morte.
Os justos e os injustos ir�o para o mesmo saco oco do nada.
Isso desanima qualquer um. Da vontade de chorar e de ser ego�sta.
O homem cruel e feliz termina da mesma forma que o pobre e triste.
E n�o adianta. Tudo acaba.
O melhor � n�o pensar nisso.
N�o me sinto satisfeito com minha alma mortal.
Queria ter uma alma imortal. Ou pelo menos poder escolher quando morrer.
Mas n�o adianta.
O melhor � n�o pensar nisso.
E j� que estamos neste mundo mesmo,
Ficarei indignado com o estado,
Observarei o povo, procurando cadeias de causas e efeitos
Me divertindo como se divertiam os romanos no coliseu
Escutando m�sica, pois gosto de m�sica
E sempre acompanhado de mulher
E de vez enquando comendo bem, vagarosamente, minha comida.
A Mar�lia Gabriela est� entrevistando um alpinista na televis�o.
Por mim eu ficaria a vida inteira assistindo a J� Soares.
(Brincadeira, quando assisto � s� pra distrair)
