!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
sexta-feira, outubro 25, 2002
N�o brinque com os deuses

Pulou no trampolin da morte por nove vezes e por nove vezes sobreviveu Filolau, semelhante aos deuses, em for�a e ast�cia. E, por ter a amada sido raptada por Zeus, Filolau, com ira infundida no cora��o, perjurou os mandamentos divinos, e zombou dos culto dos mist�rios, em tenebrosa f�ria. Ent�o Filolau, filho de Aritmeu, aquele da m�o de pel�cia, que com suas terr�veis vespas, fez tremer os filhos de Cadmo, foi visto, do alto do Olimpo, por Apolo, cuja m�sica acalma at� os vegetais. O arqueiro infal�vel, destituido de piedade, filho de Leto, irm�o de �rtemis, lan�ou, de cima de uma nuvem, com seu punho potente, flechas vibrantes, que rasgaram o ar e percorreram longas dist�ncias, at� que perfuraram ambos os olhos de Filolau, semelhante aos deuses, em for�a e ast�cia. O sangue ainda quente jorrou de seus olhos pela terra seca, formando po�as que embarreavam a areia, formando esp�cie de coagulo vermelho-amorronzado. Em volta do cad�ver, rondavam sombras de p�ssaros col�ricos, enquanto as formigas lhe invadiam a boca.

1:26 AM



Um post curto para quem curte coisa curta.

Resum�o:

Ele nasceu, cresceu, reproduziu e morreu.
Ela nasceu, cresceu, reproduziu e morreu.

Um outro cresceu, n�o reproduziu e morreu.

Ele morreu, mas antes disso teve momentos alegres e outros tristes.

Fim.

12:52 AM



A festa

Quem quisesse ir naquela festa tinha que deixar a alma em casa e levar apenas o corpo. Pois aquela festa era uma festa de animais e n�o festa de gente. Eu marquei bobeira, e levei minha alma para festa. O clima era um clima sexual, um cheiro de suor que dominava tudo. Mulheres dan�ando, homens dan�ando, gente falando. A maioria das pessoas bebendo. Todos agindo de forma extremamente animalesca, conversando conversas animalescas e eu l�, na festa, � um canto, carregando minha alma em um ambiente desalmado, totalmente animalesco, um mundo onde apenas o sentido sexual prevalecia, um mundo cheio de dan�a. N�o sei quem falou que a dan�a � a express�o vertical de um desejo horizontal. Estava certo. Concordo.

Quem estava na festa, repito, n�o tinha alma. Era imposs�vel conversar sobre qualquer coisa que exigisse um pouco mais de reflex�o. Ningu�m estava l� para refletir, ningu�m estava l� para recolher impress�es como eu, eu que escrevo as impress�es que eu tive da festa. As pessoas que estavam na festa apenas agiam totalmente por impulso, por instinto. As mulheres n�o estavam agindo conforme a vontade de sua mente. N�o! Elas estavam agindo conforme a necessidade de sua buceta. A �nica cabe�a que funcionava naquela festa era a cabe�a do pau.

Por favor, meu leitor, n�o diga que sou obsceno, nem que eu tenho uma vis�o distorcida da realidade. Por favor, n�o diga isso. Voc� n�o estava l�. Eu, eu estava. Eu vi com meus pr�prios olhos, vi tudo isso que estou contando. Se uso a palavra buceta � apenas para facilitar a comunica��o. Poderia usar, se quisesse, vagina. Mas n�o seria a mesma coisa. Posso continuar ent�o a contar como foi aquela festa? Pois bem, continuemos.

J� disse que o que imperava l� era o sexo, que a festa tinha um sabor todo l�brico. Esse era o sentido da festa. Era para isso que aquela festa servia. Essa era o papel da festa: ser l�brica, a festa servia para a felicidade do animal e n�o para a felicidade do homem.

Algumas coisas eram realmente pat�ticas, mas, meus amigos, o que esperar do animal sen�o o pat�tico? �, � verdade, sou obrigado a concordar com voc�s, meus amigos, essa animalidade tamb�m tem um fundo de beleza. A beleza dos belos corpos femininos se remexendo, dan�ando de forma provocante, toda essa coisa meio er�tica, essa provoca��o instigando-nos a socar a pirosca numa bela bunda. Confesso que era tentador, que isso n�o era l� a coisa mais pat�tica. Mas, eu pude ver com meus olhos um pobre cara xavecando a festa inteira uma gostosa.

Foi realmente rid�culo o que esse pobre cara passou. Ele ficava o tempo inteiro dando em cima da gostosa. A gostosa, que o conhecia, ficava fingindo que n�o estava entendendo, ficava fingindo que ela era s� uma amiga. Por vezes ela fazia pequenos coment�rios sobre a forma vulgar com que ele fitava as outras mulheres, dizendo que a menina havia perdido vinte quilos etc. Ele, ent�o, ficava meio perdido: se ele dissesse que n�o estava olhando, pegava mal para ele, pois iria dar a impress�o que ele era veado. Se ele dissesse que estava olhando, ele mostraria desinteresse em rela��o a ela. O pobre cara, todo embara�a e numa posi��o realmente dif�cil, acabava por fazer uma brincadeira como �s� estava olhando o refrigerante dela� e ria logo em seguida. Ela, muito esperta, tamb�m ria.

A cara de burrice das pessoas que estavam na festa � inexprim�vel. As mais bonitas principalmente, com todo aquele corpo perfeito e aquela cara de burra, aquela cara de burra de doer. Essa � minha impress�o, quero deixar isso bem claro. E essa � minha impress�o da festa, daquela festa que voc�, leitor, voc� n�o estava. N�o acho, sinceramente, que toda mulher bonita � burra. Mas se voc� estivesse l� voc� veria a cara de burra delas, principalmente das mais bonitas. Os homens? N�o reparei muito neles, para mim n�o passavam de homens, todos animais, todos est�pidos agindo estupidamente, como j� disse, completamente governados pela cabe�a, digo, pela cabe�a do pau. Que mais eles queriam? Sen�o catar uma buceta?

N�o, n�o acho que estou exagerando, n�o acho que estou sendo moralista. � isso mesmo. Eles s� queriam sexo, simb�lico ou carnal, n�o importa. Qual o problema nisso? A festa n�o estava l� para isso? A m�sica n�o estava l� para isso? Bem...no final da festa tinha j� muitos casaisinhos se beijando etc. Em todo lugar que ia tinha um casalsinho se beijando. Foi, pode-se dizer, uma festa bem sucedida. Festa boa � quando ela forma um monte de casalsinho. Essas sim, essas s�o as boas festas, quando o homens e as mulheres b�bados, a bestialidade fort�ssima, a buceta escorrendo l�q�ido lubrificante e pau melando a cueca. Essa sim. Essa � a boa festa.

O que? Est� achado que eu estou com inveja? S� porque eu que fui na festa sem deixar a alma em casa. Enquanto as pessoas estavam leves e alegres, eu pesado, profundo, apenas observando como se fosse um alien�gena almado, totalmente deslocado da festa, totalmente sem conseguir participar da festa apenas porque n�o estava disposto a fugir de mim mesmo. Voc� acha ent�o que estou desdenhando a festa apenas devido a minha incompet�ncia de mergulhar nela. O que? Est� me dizendo que se uma gostosa chegasse me beijando e se esfregando em mim eu n�o escreveria isso sobre a festa? Apenas ficaria me deliciando? Apenas sentindo o prazer? Est� me dizendo que esta � a melhor esp�cie de prazer? Que o prazer de conseguir uma gostosa � algo magn�fico? O prazer de estar com uma gostosa � sensacional?

�, � verdade. Pronto. Confessei. Mas e se eu disser que j� tenho uma gostosa e que essa gostosa est� em minhas m�os, j� � uma mestre em me servir, que me serve como ningu�m, e, al�m de tudo, tem muito mais do que seu corpo, que por sinal � belo. � �bvio que essas coisas como amor n�o � para esses primatas que v�o numa festa. O amor � coisa para poucos. � coisa para as pessoas cuja ess�ncia � uma ess�ncia especial, diferenciada, mais humana. Muito diferente desses bando de animaisinhos pe�onhentos que adoram ficar se esfregando um no outro. Transam com corpos e n�o com pessoas.

Sim! N�o passam de cadelas e c�es no cio! Meu Deus! S�o esses b�rbaros que constr�em o mundo! Se o neg�cio � o corpo, que sejam mais diretos: porque esses dementes n�o contratam prostitutas de luxo. Elas s�o muito bonitas mesmo, s�o charmosas, n�o d�o trabalho nenhum e ainda por cima, s�o limpinhas. Mas eu sei porque eles, digo, os primatas n�o as procuram. Porque eles n�o tem dinheiro para isso. As mulheres que est�o na festa s�o mais dif�ceis e portanto � mais glorioso para o bando de primatas que l� estavam presente conquist�-las.

O que eu estava fazendo na festa? Estava l� para conhecer as pessoas. Como? Como que eu conheci se n�o falei com nenhuma delas? Simples, fiquei olhando, se conversasse, a� sim, a� sim eu n�o conheceria. Fiquei lendo as caras, os gestos, o modo de se vestir, as poses e os sorrisos. N�o fui, � claro, para conhecer exatamente aquelas pessoas. Queria conhecer o ser humano e acabei descobrindo animais.

Tinha uma loira que tinha um corpo bonito, muito bonito mesmo. Usava uma cal�a branca colada, um cintinho, uma camisetinha colada e ficava andando para l� e para c�, com um ar meio de � De todas as meninas aqui presentes eu sou superior, pois sou a que mais pare�o com a Barbie. Sou, al�m disso, a mais gostosa daqui, a minha buceta � a buceta mais desejada.� Percebia-se claramente que sua buceta n�o estava molhadinha, apenas seu orgulho estava molhadinho. Mas um tempo depois chegou um cara bonito que sabia dan�ar bem, com uma cara de simp�tico, convidou-a para dan�ar, ela aceitou e mais um casal se formou, mais um esfrega - esfrega sem fim.

12:39 AM


quinta-feira, outubro 17, 2002
S�vio na cidade grande.

Lendo um dos posts de Iago, lembrei do tempo que morava em Sampa, naquele apertamento bizarro l� na teodoro. Tinha muita coisa foda naquele apartamento, como a densidade demogr�fica. Mas uma coisa bem dif�cil era conseguir ler no ap�, mesmo nos raros momentos quando n�o tinha ningu�m l�.

Do lado de fora, l� em baixo, na rua, podia se avistar da janela uma infinidade de camel�s. O pior deles era um que passava o dia inteiro gritando, com uma voz meio aguda, maio nasalada, com uma tonalidade meio maquinal:

"Capa de video, capa de controle, s� um real, � s� um real"

e tinha outro que tinho o ponto bem do lado de dele e fazia coro com a cara da capa de v�de. Esse berrava:

" Ceeeeeeeeeeento e cinq��nta cotonete um real .� s� um real."

E assim ficava os dois anunciando seus produtos enquanto eu tentava estudar algo como f�sica matem�tica. Algumas vezes me dava um nervoso t�o grande - eu fecheva os olhos e podia sentir aquelas duas vozes entrando no meu corpo e fazendo vibrar todos os nervos respons�veis pelo nervos�smo. Chegava ao paroxismo da desespero e raiva, queria matar aquelas criaturas. �s vezes aproximava-me da janela e cuspia sem ser percebido. Outras vezes debru�ava sobre a janela e ficava obsevando o cara do cotonete e da capa de controle, para ver se algu�m comprava mesmo aquelas porcarias. O pior � que compravam. Mas o pior mesmo � que um dia eu mesmo comprei o cotonete.

Com o tempo estes dois camel�s foram tomando para mim uma significa��o estranha. � dif�cil explicar. � como algu�m que est� na floresta e escuta um bando de p�ssaros, mas n�o ouve estes p�ssaros. Assim, n�o era mais berro o que escutava, eram piados, sons naturais, que iniciavam as oito e tinham t�rmino as seis da tarde. Para mim, estes camelos s� existiam enquanto gritos, eram mais um grito do que um camel� mesmo. Era, por assim, dizer, um grito que por acaso tinha uma parte material. Esse grito aparecia em tal hora do dia e ia embora em outra hora. N�o tinha fam�lia, paix�es, medo da morte nem nada.

Porra, mas imagina, uma pessoa que passa todos os dias gritando a mesma frase � quase um monge entoando infinitas vezes seu c�ntico. Sei l�.

Mas fico aqui por hoje. Pensava em falar do "Grupo S�rgio", onde com�amos esfihas por dezenove centavos. N�o sei porque, mas me causa uma emo��o muito grande relembrar de eu sentado na mesa da rua, em frente um puta avenid�o, comendo aquelas esfihas, borrifadas de catchup, discutindo se Einstein era picareta ou n�o, num lugar onde eu era muito mais que an�nimo, onde ningu�m de meu passado me conhecia.

11:48 AM



Os �ltimos dias passados

Meu ritmo de produ��o de posts est� cada dia menor. Minha criatividade est� cada dia menor. Meu poder imaginativo tamb�m. Mas a minha consist�ncia l�gica aumenta progressivamente a cada dia que passa. Meus pensamentos est�o cada vez mais fortes e robustos, e j� posso sentir que entendo bem mais a maquinaria do universo, em todas as suas camadas, inclusive na sua dimens�o po�tica e m�gica.

Por�m, isto tem um custo: perdi completamente a criatividade. Sacrifiquei-a em troca da comprees�o das coisas. N�o me bastou ser dono de tudo. Mas n�o ligo em perder a inventividade e a criatividade - s�o duas inst�ncias in�teis, xoxas. Digam-me: para qu� ficar com a mente f�rtil, adubada etc?


10:21 AM


domingo, outubro 13, 2002
Da melocom�dia?

Encontrei na pequena gota de �gua que caia da ponta de seus cabelos uma aurora para minha exist�ncia outrora t�o cansada. E parecia que as cores pulavam, que o cotidiano se dissipava num instante mui ampliado.
-Nunca serei assim, nunca serei assim. N�o faz parte de minha natureza. Mas sempre amor: o amor.
Mas quando olho para os t�nis que est�o ao meu lado...
ah!....me d� uma vontade louca...n�o, � melhor deixar quieto...

12:15 AM


quarta-feira, outubro 09, 2002
Tempo � dinheiro

Comecei a ler Em Busca do Tempo Perdido.
O �nico tempo perdido � o do leitor. Consegui chegar na p�gina 50 e, morrendo de sono, comecei a achar aquilo uma verdadeira babaquice. Coisa de perobo, de �hiper-sens�vel�. Confesso que algumas das id�ias, algumas cenas, s�o memor�veis, merecendo o adjetivo: �interessante�.

� o caso da cena dos biscoitos.
Nesta cena, Proust come um biscoito em dez p�ginas. Isso porque o ato de comer biscoito lhe inunda de reminisc�ncias. Primeiro uma estranha sensa��o, uma euforia extasiante, que vai num crescente at� que lhe vem a espec�fica cena do passado, evocada pelo biscoito molhado em um ch�. Mas, no geral, o livro n�o passa de um caldo grosso de adjetiva��o vazia, em outra l�ngua: enche��o de ling�i�a, objeto amado por Proust de todas as formas.

Por isso resolvi trocar a leitura, peguei um James Joyce, que � um pouco mais divertido. E, segundo Lacan, psic�tico. Acho que por tratar palavras como coisas. Ent�o - deixe-me prosseguir - peguei o Joyce e fui ao banheiro para receber uma bela duma boquete. Vai se fuder Arist�teles! Fa�o trocadilho mesmo.

Mas que loucura! Onde vou parar escrevendo coisas assim? Quem ir� me entender?
Eu mesmo?
S� eu mesmo?
Foda-se.

Hoje fui at� a mercearia. A princ�pio n�o queria, mas a fome me obrigou. Sentia a consci�ncia toda arranhada, demasiadamente transl�cida.
Queria fazer outro tipo de coisa, como ficar sentado.
E queria tamb�m, se fosse poss�vel, uma outra consci�ncia.

Ser� poss�vel fazer transplante de consci�ncia?
Ser� algum dia poss�vel?
Ou voc� acredita na identidade entre mat�ria e esp�rito?
Ou qualquer outra invers�o transcendental?

Mas, na verdade, o que se passa entre mim e Proust, ou entre mim e a �obra� de Proust (para evitar obje��es) � o seguinte: n�o tenho calma suficiente para l�-la. Sou demasiadamente ansioso para saborear deliciosas 50 p�ginas sobre o valor do beijo de sua m�e, antes de dormir.

Me desculpe Proust. Tenho mais o que fazer. Por exemplo, dar tiro com a espingardinha de chumbinho que o Velho Chaby, morador aqui da r�publica, trouxe hoje para casa. Enchemos uma garrafa de pl�stico com �gua e fizemos de alvo. E, quando acert�vamos, come�ava a vazar �gua pelo furo. E diz�amos entorpecidos:

- A garrafa t� mijando. O Pablo fez a garrafa mijar.

Caralho! Quanta coisa in�til. Quanta perda de tempo. Ser� que falar de m�sica n�o � perder tempo. E quem disse que o tempo � dinheiro. Isso � verdade para usur�rios fedidos, como os bancos.
E, se tempo � dinheiro, dinheiro � tempo. Tempo � espa�o. Logo espa�o � dinheiro e eu um ot�rio de escrever algo t�o retardado.

1:57 PM


terça-feira, outubro 08, 2002
A rainha do pecado e o baralho dos cegos

Era uma vez uma mulher que era a rainha do pecado.
Pecava muito.
E seu pecado era uma esp�cie de loucura.
Uma loucura em que todos eram pecadores.
Mas a culpa se dilu�a na n�voa de uma falsidade art�stica.
Seguia o caminho das ondas como uma estrela do mar.
Cegava os olhos com suas pr�prias unhas.

E havia um homem que tinha opini�o para tudo.
E olhava para o lado e via muitas coisas.
E tantas coisas via. E tantas outras imaginava.
E amava quando amavam seus sonhos mais vol�teis.
Tinha metade poesia e metade realidade.

A m�sica lhe encantava.
O feiti�o lhe encantava.
A vida n�o lhe era hostil.

Outro sujeito girava sobre seus pr�prios olhos.
E via na carne sua maldi��o.
Via na carne seu pecado e seu erro.
E via poder sobre a carne podre.

No c�u, ao longe, espiava o urubu.
Ave risonha e f�tida.

Quando senti o seu fedor,
Num primeiro momento me enojei.
e cuspi poesia de lado.
E tranformei-me num xulo.
Te chamava de canto e te comia toda
Como uma cadela

Depois do amanhacer

Depois do anoitecer aparecer� cantando a madrugada
E passarada ir� piar
O Sol est� chegando
E com seus raios irei para longe
Voando pela ocura do espa�o

Mandando as estrelas tomarem no cu
Pois � cu o nosso Deus
Se � que Deus h�.

Para que tu me ofereces veneno?
Para ficar brega?
E te comer com meias soquetes?
E ser atormentado de baixo das nuvens
Por figurinhas verminais?

Por que senhor, um Augusto dos Anjos?
De anjo s� tinha o nome.
E n�o digo mais nada.
Calo-me aqui.
Pois voc� n�o merece.

Voc� merece pouca coisa.
Um pouco de feij�o
E um prazer de vez em quando.
E tua grandiosidade?
S� encontrou na paix�o?

O cara aqui de casa

O cara aqui da casa
Disse que me calasse
E fosse olhar para o c�u

Fui e n�o vi nada de mais
Vi algumas nuvens e um pouco de azul

- Ou! Para de girar sobre si mesmo! Vai se fuder gostoso!
Dar aquela boa metida e sair feliz, cantando por a�.
- N�o sei.... Meter com ela me deixava t�o bem. Com o esp�rito leve e juvenil.

- Vamos l�! Se entrega rapaz!
- Deixa ela fazer uma bela duma chupeta. E sai tranq�ilo. Ter bons sonhos no conforto da cama.
- Nunca recebi uma chupeta na vida. Recebi sexo oral. Feita com toda sabedoria da higiene.

- Ent�o voc� n�o sabe o que uma bela duma chupeta.
- O que � a chupeta?
- � uma coisa que agente aprende na inf�ncia, quando ainda � muito novo e aut�ntico.
- Como assim?
- Come�a no bico do seio e vai para o pequeno aparelho de borracha.
A mulher deve buscar nas profundezas do inconsciente a verdadeira arte.

O dia

O dia est� amarelo.
� essa luz que me ilumina.
E pulsa como um pus.

Cansei de escrever hier�glifos.

Olha aqui, o pinto do coelho n�o � grande, mas diz muito sobre todas aquelas mentiras que voc� me contou.

N�o que eu pense que n�o haja verdade alguma. N�o. Olha aqui! N�o tenho muito a dizer e j� estou de partida. Quero deixar um seja feliz para voc� e ir-me embora. Pois esse solo j� estragou. Minha semente n�o lhe serve mais. Mas embora minha mente trave de vez em quando, ainda assim continua funcionando. N�o funciona muito bem...voc� ta vendo. Mas � uma esp�cie de diabo que vive dentro de mim. E me comanda como um gato pintado. Vejo a sua cara. Cara de babaca. Algo quente e morno. Suado e vai tomar no cu. Vai tomar no cu.

O cu tem diamantes em seu interior. Basta entrar no cu e voc� ver� verdadeiras pedras cristalinas. Serei sempre eterno e existirei sempre. Sempre estarei a� ao seu lado. Fazer o qu�? N�o tem como fugir de mim. N�o adianta. E num certo dia, num certo lapso. Ah! Vadia! M�e natureza. Maezona universal. Coitado de n�s que j� somos predestinados desde a inf�ncia. Pobre coitado tu �s. Frente as leis maiores que nos ditam os caminhos. Conhecimento � liberdade. E s� quando ele n�o � liberdade, que ele � �dio. O esp�rito embosteado. E a grande luta contra o embosteamento.

Que todos voc�s v�o ao inferno.
N�o preciso de ningu�m.
Destilo dentro de mim mesmo meu pr�prio ouro e alimento.
E olho para o mundo com desd�m.
Ningu�m � t�o importante como eu.
E conhe�o os problemas que vou enfrentar
Sei desse papo que o outro � o eu que n�o sou eu
Mas tudo � meu e disso tenho certeza.


N�o sou daqueles que prefere se calar.
Olha aqui pessoal, eu n�o tenho nada para falar a voc�s. N�o posso dizer nada de importante e devo por isso me justificar. O m�ximo que posso fazer � escrever sobre situa��es em que voc�s se identifiquem.

Poderia dizer que tenho f�ria e lama nas minhas veias. Mas e da�?
- Grande bosta que tem f�ria e lama!
E tenho que confessar que � verdade

Grande bosta.

E assim, o que eu poderia fazer, poderia dizer que tem um c�u bem artificial na minha cabe�a. Mas o que posso fazer?

Meus amigos n�o gostam de ficar olhando o c�u.
Preferem beber cerveja.
T� certo. V�o beber cerveja.
Eu. Eu vou ver o c�u.
No primeiro momento ele nada me diz
Fica l� parado. In�til e besta.
� que o c�u � t�mido.
N�o quer dizer muita coisa n�o.
[Acha que n�o vale a pena dizer nada para voc�]
Prefere ficar na dele.
Mas voc� n�o desiste.
E fica l� no fundo do quintal a olhar para ele
Se quiser pode acenar com os bra�os
Da� alguns segundos voc� escutar� alguns murm�rios
Um balbuciar quase impercept�vel

Deixe os ouvidos atentos.
� um pequeno vento assobiando na orelha
Um vento muito calmo
E o sol ta morno e vai batendo suavemente na pele
{E eu estou do lado, vendo a cena}
E eu sou o Deus da est�ria e come�o a mijar nela.
Mais meu mijo � �gua cristalina e uma bela chuva que alicia os amantes

:
- N�o � dor o que voc� sente quando est� sendo penetrada
� prazer e nada mais que prazer
� carnaval
� alegria
� vida
� maldi��o

�A maldi��o est� dentro de n�s. Estamos pescando pequenas carpas em cima de uma baleia.�(p.13)

O inferno

O inferno s�o os outros?
O inferno � agente mesmo?

Existe um desconforto na loucura.
E o inferno � filha da rela��o de n�s com os outros e de n�s consigo mesmos.

O que � fazer boa companhia para si mesmo?
� ficar passando a m�o na pr�pria cabe�a?
Ou ficar batendo punheta?
Ou escutar uma m�sica dos Rollings Stones?

Digo apenas que muitas coisas acontecem por debaixo da m�scara
E debaixo da m�scara procuramos sempre ser cuidadosos
( Debaixo da m�scara � um espa�o de condensa��o de intimidade
Onde se acumulam devaneios.)
J� dizia o velho Bachelard

Agora queria que voc� estivesse aqui
E compartilhasse comigo este instante
Sinto-me t�o bem
Sinto as costas relaxadas
E sinto-me disposto ao amor

Ontem e hoje

Ontem nasceu o universo
Amanha morrer�
N�o somos eternos
E a vida � uma bolha
Vamos nos amar

E vamos esquecer o leitor, o juiz e o ladr�o
E vamos amar
Seu corpo � gostoso
E me faz sentir bem

Amo sua alma e seus pensamentos tortos
Perco-me em seus olhos
E esque�o de mim mesmo
Sou todo amor

Cada palavra tem um tato
E uso as palavras para te lamber quando sai do chuveiro
E te secar como faz um gato
Assim voc� ir� dormir com meu cheiro
E sonhar� que est� dando pra mim

Muito tempo atr�s havia um pitibul que vivia numa ilha. Ilhado de tudo e de todos, inclusive de si mesmo.
- Para.
- Como assim para.
- Voc� est� exagerando na indisciplina. Ta agindo como um retardado!
- Por que?
- Olha s�. Voc� gosta de sonhar e ter devaneios, certo!
- Certo.
- Mas voc� n�o consegue amar a si mesmo.
- Por que voc� pensa essa barbaridade!
- Porque aqueles que te conhecem, seus amigos e camaradas, n�o est�o muito preocupado com sua sa�de.
- Eles est�o sim. Mas o que isso tem a ver?
- Voc� j� pensou qual � seu objetivo na vida?
- Objetivo?
- Sim. Objetivo. Meta final.
- N�o com muita seriedade.
- Pois deveria. Como voc� consegue viver sem objetivos estruturais?
- � f�cil. Tenho pequenos objetivos localizados. Passar de ano. Sobreviver. Ganhar algum dinheiro.
- Falo de grandes objetivos. Tudo isso � passageiro.
- Mas eu me preocupo com o passageiro, com o ef�mero.

Eu outra vez

Neste instante cai no olho do escritor uma fagulha de algo qualquer. E a� mo�ada, um abra�o.
- Ah! Larga de ser falso!
- Falso o caralho.
- Chame-me de qualquer coisa, menos de falso.
- Como se deve escrever!? Como um of�cio. Um v�cio que n�o se pode mais largar. Uma escrita de respirar curto. Uma escrita qu�ntica. Que vem em pacotes de informa��o. Por que at� agora n�o uniram as leis do mundo subjetivo com as do objetivo?

- E a�, estou a fim de dar uma trepada com voc�.
- Hoje n�o. N�o posso. Quem sabe semana que vem.
- Ta bom. Espero que a vontade n�o passe at� l�.

Linda criatura, escrava sexual, puta potencial, mula inconstante. Queria te dar um abra�o e te dizer bom dia e ir comprar um p�o quentinho na padaria de manh�. E comer com a manteiga Avia��o. A manteiga derretendo no p�ozinho logo cedo, o mundo acordando e mais um dia de trabalho.

( O que o sujeito acima n�o sabia � que n�s que aqui estamos n�o conhecemos muito sobre ele. Dizem que ele tem vida pr�pria. Mas a sua mulher age na escurid�o. )

A conseq��ncia

A mente passa ser perturbada por dem�nios que n�o se calam, e ele fica escrevendo como um louco que nunca se para. Insano para todo tipo de atividade. Torce o nariz e vai correndo pelo mundo. Sobe montanhas. Desce ribanceiras. Atravessa p�ntanos. Dorme na cavena escura ao lado de in�meros morcegos e vai andando como um viajante estranho. Tudo lhe � novo e n�o se apega a ningu�m.

Cada encontro � o ultimo encontro.

Ele sabe que a viv�ncia gera picuinhas irremedi�veis. Pequenos atritos mi�dos. Pequenos vetores que apontam para o mal.

J� o andarilho nunca para. Ele n�o tem casa.
Um m�s aqui. Uma semana l�.

E tem os p�s calejados. E o cora��o aberto a tudo. E nem se chega j� est� se despedindo.
- Quer�amos que um certo viajante ficasse em nossa cidade conosco. Mas ele se foi. Ele n�o podia ficar.

E de fato t� tudo besta.

Quem tem o direito da propriedade? E quem n�o � corrupt�vel? Quem poderia abandonar um instante sem sentir nenhuma saudade dolorida como o diabo!

E o peregrino guarda a saudade no seu cora��o. Como os portugueses. Um povo da saudade. Da saudade do tempo em que Portugal foi a primeira pot�ncia mundial. Pouco antes da expuls�o dos judeus.

Estou puto com o Credicard. Primeiro ele chegou bonzinho dando presente. E em troca pediu que eu assinasse um pequeno papel. Coisa � toa. Um m�s depois o Credicar mandou congratula��es pois acabara de receber um cart�o. Hoje chegou a fatura. Daqui um ano, deverei milh�es ao Credicar. Triste vida!

12:36 AM


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