!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
segunda-feira, março 31, 2003
O grande cogumelo

- Espero estar melhorando a cada dia que passa.
- Como assim?
- Ah, melhor, sei l�.
- N�o, n�o. Explica direito, se voc� n�o sabe explicar o que se passa com voc�, � que voc� n�o sabe.
- Voc� � que est� enganado, eu sei para mim o que se passa comigo, mas n�o tenho palavras para comunicar.
- Cala a boca ent�o. Eu n�o acredito nesta hist�ria: se voc� n�o consegue se comunicar � que no fundo seus pensamentos s�o confusos.
- Mas s�o confusos mesmo u�.
- Ent�o, j� que � assim, n�o afirme coisa nenhuma, pois � in�til j� que voc� n�o � capaz de ter o m�nimo de clareza no seu discurso. Veja bem, para qu� dizer que voc� est� melhorando? Que coisa mais besta.
- � que eu sinto.
- O qu�? Voc� senti? Sens�vel como Renato Russo?
- Acho que voc� est� se fazendo de desentendido. N�o � poss�vel que voc� n�o consiga entender quando digo que eu melhorando?
- N�o mesmo. Toda vez que uma pessoa melhora, ela melhora em algo. Portanto, n�o ficou claro para mim. Voc� est� melhorando em qu�?
- Ent�o vamos mudar de assunto, � melhor.

Nisso, o cara que disse que estava melhorando, colocou o cabresto no hipop�tamo que estava ao lado e come�ou a voar com o hipop�tamo pelo mundo. Seguiu em dire��o ao Nepal, queria falar com um velho, um s�bio, ou coisa assim. Passadas algumas horas estava o nosso amigo numa caverna no Nepal. Estava muito escuro e �mido, o piso era escorregadio e cheio de abismos. O sujeito seguiu em frente, guiado pelo terceiro olho, e se encontrou nas entranhas da terra. Dif�cil travessia.
Subitamente ele encontra no centro da caverna uma enorme galeria. No meio dela um cogumelo gigante a irradiar luz. A paisagem � linda, ele se ajoelha e, at�nito, faz o sinal da cruz. Seus olhos duvidam do que v�: como poderia uma coisa dessas ser a imagem do que h� de havido e do que mais h� de haver, sendo que continua havendo.
E o cogumelo diz:
- Sou o cora��o do mundo. O centro metaf�sico, o sonho, o del�rio, o pai de tudo o que h� de mais s�lido e de mais mole.
Nisso, o cogumelo, s� com o poder da mente, faz tocar arte da fuga de Bach. Mas n�o h� instrumento que toca a m�sica. Ent�o o nosso amigo que disse que est� melhorando sente como se fosse m�sica pura. Vem de dentro para fora.
E o grande Cogumelo faz ressoar a galeria com as seguintes palavras:
- Cada cogumelo � �nico. Mas todos eles s�o amigos do olho, fazendo-o enxergar coisas o invis�vel.
- Ent�o � disse o rapaz � todos os cogumelos do mundo nascem de voc�. Sim, meu rapaz, os cogumelos s�o, traduzindo para a sua linguagem, os meus filhos. O sonho o meu instrumento, a m�sica a minha ordem.
- E o que voc� pensa do Jazz?
- Acho massa, mas nem s� de Jazz vive o homem.
- E as mulheres?
- Elas d�o muito trabalho, mas existem boas mulheres no mundo.
- E a poesia?
- � o cora��o da l�ngua.
- E o cora��o?
- O cora��o n�o � o que voc� pensa que �.
- Como voc� sabe o que eu penso?
- Telepatia.
- Ent�o telepatia existe?
- Sim, mas n�o em voc�.
- Mas eu te vim procurar por um motivo. Eu estava discutindo com um amigo meu e eu disse a ele que eu estava melhorando, ent�o ele come�ou a me questionar. O que aconteceu foi que eu fiquei muito em d�vida, pois n�o sabia como definir nem como explicar. Ele disse que meu discurso n�o era claro. Da� eu fiquei em d�vida e essa d�vida me foi muito cruel. E eu vim aqui achando...
- Ta bom. Ta bom, sem mais delongas � disse o cogumelo franzindo a sua esplendorosa chapeleta � o neg�cio � o seguinte. Voc� sente que est� melhorando?
- Sinto.
- Ent�o voc� est�.
- � t�o simples assim.
- N�o, na verdade n�o � t�o simples assim. Mas pode acreditar em mim. Prefiro n�o comentar os meios, pois j� conhe�o os fins.
- Ent�o responde s� mais uma coisa.
- Diga.
- Deus existe?
- Sim.
- E Buda C�smico?
- Tamb�m.
- O diabo?
- Sem d�vida.
- A �ltima pergunta, juro.
- Manda.
- Quando a vida acabar, eu vou continuar?
- Sim, mas perder� toda a mem�ria. Nunca se esque�a: o eu � uma inven��o sua, uma fic��o mais ou menos real, que de forma meio consciente, meio sem querer, voc� acabou construindo. No fundo, voc� � mais uma mentira razoavelmente consistente. Se, nesta constru��o entrou arte, brincadeira, amor ao jogo, prefiro n�o lhe dizer. Mas no fundo, nunca se esque�a que voc� n�o existe, e a mem�ria � uma sala cheia de falsos espelhos. Fui o mais did�tico que pude. V� embora e tome cuidado com o terr�vel coala-peixe-passaro-mutante. Ele domina a sociedade dos homens rob�ticos, e quer conquistar a vossa, a sociedade de consumo.

10:53 PM


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