Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.
� quinta feira. O vazio atravessa todos os poros porosos de meu corpo s�lido. N�o sei mais o que dizer de mim. Ainda � cedo para escrever sobre qualquer coisa que fique coisando pela cabe�a de cabe�udos que n�o encontram aten��o necess�ria ao tipo de entendimento que permita frases longas fazerem algum sentido que n�o o dela pr�pria. Sendo assim declaro isen��o de sentido. Prefiro, outrosim, ficar suando, correndo, martelando.
Porque se escrevo coisas que fazem sentido para mim, acabarei n�o escrevendo nada. Talvez o melhor seja pegar uma palavra. Uma palavra. Uma palavra. Caralho! Toda comunica��o tenta encontrar um caminho. A express�o procura se exprimir. Busca vazar do corpo do escritor. E vaza como merda. Como muco. Como suco. Como mel. Como rima. Com lima. Perdida. Descontrolada. Porque (se n�o me engano em minha ironia) � burro todo aquele que n�o entende matem�tica e procura uma certa const�ncia, um falso galopar gostoso. Uma m�sica. Um ritmo cadente, um tom de voz constante. Uma brisa que acaricia o cu a palpitar.
Ent�o, j� que � assim, trancado numa solid�o estranha, tento ensinar a mim mesmo a encontrar algo que em mim que em mim me falta e que, por ironia do destino ou praga de Deus, n�o sei o que que �. Minha vida sempre foi um muro de desintendimento sobre o qual voam palavras lan�adas com bazucas. Comunica��o. Comunica��o. Ajoelho humildemente sobre seus p�s e lambo seu ded�o agudo. Permita-me que a mim, pobre s�dito, seja dada a gra�a (ou a feliz ilus�o, talvez o ardil, ou quem sabe o do dom) da palavra certeira. A palavra que diz aquilo que quer dizer. Express�o perfeita da alma, ou de um n�cleo apartado da linguagem. O ritmo constante. E n�o apenas as palavras, que saem como pulo, como trova travada e troceira. Fazendo a leitura fluir como uma roda quadrada.
Resolvo abrir as janela. L� fora passam trens, homens, almas, cachorros, tempos, espa�os e voc�. Que est� longe longe, bem longe da minha janela, olhando desconfiado para essa abertura no espa�o que n�o � o de Newton. Percebo que desconfia da exist�ncia. Da exist�ncia de um abismo entre voc� e o mundo, e mais especificamente entre voc� e eu. Para seu espanto e satisfa��o, revelo-lhe que sua desconfian�a faz sentido. Existe sim um campo energ�tico dentro do qual voc� est� inserido.
- Voc� � um indiv�duo.
Voc� sabe o que � isso? N�o. Hahaha! Ent�o voc� tem mais ou menos uma no��o! Mais ou menos! Sempre mais ou menos! Como se tudo fosse um jogo de palavras. Mas n�o �. E � poss�vel que voc� nunca me entenda tal como eu me entenda. � bem poss�vel que me entenda mais ou menos. �s vezes mais para mais. �s vezes mais para menos.