!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
segunda-feira, maio 12, 2003
Reflex�es ou os ilus�rios espelhos da alma

Faz tempo sim que n�o escrevo. As minhas palavras perderam-se num po�o fundo, l� embaixo, na escurid�o do meu sil�ncio. E assim, t�o mergulhado em mim, pela primeira vez posso dizer a mim mesmo que senti saudade. Saudade daquele tempo que definitivamente passou.

Pergunto-me se era de fato mais feliz naquele tempo do que sou hoje em dia. Acho que esta � uma pergunta bastante importante, pois sei que � de nosso costume n�o dar o merecido valor �quilo que temos, e se o passado escorreu entre meus dedos e o futuro se me mostra em miragem turva � tenho o presente. Posso dizer, sem medo de errar, que o presente est� bem na minha frente, diante meus olhos, fazendo vibrar as peles do meu t�mpano. Este � o presente-agora, o presente instante. Mas tem o presente-quase-agora, ou presente altamente potencial, formado basicamente por pessoas e coisas que nos �ltimos dias freq�entam minha exist�ncia e que sobre esta lan�am tent�culos energ�ticos, ou para com�rcio amigo onde ambas as partes saem ganhando ou - o que n�o � raro - para me vampirizar.

Ent�o vamos �s mulheres, ou melhor, � mulher. Bom, se estou com ela s� pela minha rola significa que quando estou com ela n�o sou mais do que uma rola. Sem querer desvalorizar a rola, mas tal modalidade de relacionamento � muito pobre. Ao dar valor apenas ao seu corpo, ao gostoso toque de seus l�bios �midos, acabo por deixar de lado todo o afeto, toda ternura, e toda a vida que, quem sabe, existe por detr�s daquela vertiginosa bunda.

Sendo, pois, nada mais que rola, dispo-me de todos aqueles atributos pelos quais brado, todo retumbante, que sou humano. Embora eu nem sempre nem sempre seja rola, n�o o nego naquele instante de lux�ria inebriante, na imensa alegria inescap�vel do orgasmo. A rola � como uma antena que brota, toda parab�lica, no meio das minhas pernas, um pouco acima do saco. Possui o poder da transforma��o material. Carrega em si a possibilidade de uma nova vida germinar na Terra, planeta t�o fecundo.

A esta altura n�o me resta muito mais al�m de uma primeira pessoa infinitamente solit�ria. Eu. Este EU que me acompanha desde o dia de minha morte, um pouco antes de eu nascer, e vai seguindo comigo at� a pr�xima morte, no dia em que eu morrer.
E quando eu morrer? Viverei atrav�s de meus filhos? Viverei atrav�s de minhas obras? Viverei atrav�s da transmuta��o do meu corpo em adubo? Ou simplesmente n�o viverei mais. Ah, esse EU t�o apegado � mesquinharia da mem�ria, t�o apegado a si mesmo, sempre curvando sobre si lambendo o pr�prio rabo. Ah! esse eu, t�o miseravelmente bobo, mesquinho, tolo. Apegado a coisas t�o pequenas como ele mesmo. Apegado ao seu saber. Apegado ao seu mundinho de bananas. Apegado. Sempre apegado. Mas que sem d�vida ser� apagado. Um delete sobre a minha exist�ncia. Apenas delete: limpo, sem esc�ndalo.
E pensar que estamos no mesmo barco. Na barcarola da morte. Enquanto n�o chega o precip�cio do nada, discutimos David Lynch, falamos mal de Godard, e tentamos dar boas risadas de sei l� o qu�.

� preciso esquecer para viver. � preciso se iludir para viver. � preciso... � preciso... J� que est� vivo: viva!
Viva! Eis a felicidade! Oba! Oba! � assim que quer? � assim? Saltitante? Ent�o vamos saltitar, vamos dan�ando cirandinha em dire��o ao abismo da morte, cair no infinito mar do esquecimento. Iupi! Quero esquecer! � isso a� campe�o! O qu� fazer? Ora, ora, ora, Mr. Magoo! Ora essa, meu bom camarada. Vamos pra frente, que pra tr�s tem gente.

Chega mais: pensa. Ou melhor, n�o pensa e responde: Por que n�o escutar os ideais plat�nicos em Mozart, para em seguida pendurar uma melancia na cabe�a e sair dan�ando no molejo da zabumba? Ah ha! Agora eu te peguei hein? Se n�o, podemos observar algo de interessante no cora��o das trevas. Ou quem sabe na est�tica oca encontrar um al�vio para a oquid�o do mundo? Talvez mais que al�vio: um entretenimento, uma gangorra louca, feiticeira, tal qual brinquedo m�gico sempre a bailar dentro desta barcarola, t�o cheia de risos e de l�grimas, de t�dio, de Boudelaire, de ennui, e de baz�fia.

Mas nunca poderei esquecer, por enquanto, da necessidade. NECESSIDADE. Outra vez: NECESSIDADE. � a �ltima vez: s� para ser enf�tico (nesse mundo onde tudo � show, onde tudo � impressionante, onde tudo � fant�stico, onde filha mata pai e m�e, onde homens-elefantes com saco de papel na cabe�a andam soltos - nesse mundo temos que repetir v�rias vezes uma coisa, como dando marteladas para que algu�m entenda, ou pelo menos percebam a import�ncia por n�s atribu�da a esta ou aquela fatia da vida), portanto repito: NECESSIDADE.

A necessidade, esta tirana, a necessidade, esta tirana, a necessidade, esta tirana. Passo a maior parte do dia dormindo, comendo, pagando conta, fazendo compra, indo de um lugar para o outro, rastejando por dinheiro, tomando banho, fazendo necessidades. Tchau! Se n�o eu vou morrer de desgosto. Quero um balsamo! Por favor, um b�lsamo!

12:55 AM


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