Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.
Acabada a peça, fomos à quermesse. Tomei quentão, demos risada quando uma amiga nossa mencionou que tinha uma colega que trabalhava na coleta, na coleta de esperma de cavalo de raça. “E como se faz para extrair?”, perguntaram. Nessa hora não pude resistir, tomei da palavra e disse com propriedade “choque no cu”. Todos deram risada, e pediram para eu falar sério. Disse era sério (e de fato era). Tinha aprendido com meu pai, que é pecuarista. Lembro-me que essa técnica me surpreendeu e como todo mundo sabe, as coisas que surpreendem ficam gravadas com mais relevo na tábua da memória. Mas como pediram para eu ser verdadeiro, complementei que, ao menos para gado, a técnica era essa, mas, talvez, para o cavalo, a técnica fosse a punheta. Então nossa amiga veio esclarecer que normalmente se faz uso de uma vagina sintética de égua. Mas ninguém ficou convencido que era só acoplar da vagina de plástico no pau do cavalo e pronto. Sem dúvida que outras formas de estimulação eram necessárias. Foi aí que surgiu na roda que o que se costuma fazer é amarrar a égua, esperar o cavalo montar na égua e, finalmente, desviar o seu pau do cavalo de modo que entre na vagina protética.
Não sei quem foi que supôs que o esperma era colhido da seguinte forma. O cavalo fica metendo na égua normalmente, na hora h, devem pegar o seu pau para botá-lo no recipiente. O trabalho seria feito em equipe. O integrante mais importante da equipe seria o especialista em feições em cavalos. Conseguiria ler o prazer no girar de olhos do cavalo, no contorcer de pescoço, na tonalidade dos sons emitidos. Quando o cavalo estivesse prestes a ejacular, o especialista daria um rápido sinal avisando ao resto da equipe que era para tirar o pau do cavalo e colocá-lo no recipiente.