!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
terça-feira, novembro 11, 2003
Discordância

Depois de comprar pão na padaria, fui forçado, mais uma vez, a perceber o imperioso gosto a que as pessoas têm de concordar umas com as outras. Um faz no tapete, o outro concorda de forma estranha, sobrepondo ao primeiro montinho um outro de mesma consistência. Com o auxílio de uma colher de pau que pegam na cozinha, os dois misturam os produtos e uia! percebem algo maravilhoso. A homogeneidade da substância, e o acréscimo do volume em conexão causal com evacuação posterior. Meditando friamente sobre o fenômeno, alcançam a noção que Deus é bom, tanto é, que no céu tem jogo do Verdão todo dia, e ele sempre vence.

Se se sorteasse qualquer amigo meu e extraísse dele uma opinião qualquer e a confrontasse com a que tenho em relação ao mesmo tema, a possibilidade de eu concordar seria, digamos, uns 0,2 por cento, certo? Se não discordasse no gênero, discordaria em número e ou grau. E nem por isso eles tirariam o chapéu para mim, mas, felizmente, eles também não me apedrejariam nem espumariam por isso. E o que isso comprova? Que eu não sou eles. Ademais, não acho que vale a pena gastar suco gástrico erigindo dialéticas a partir de quaisquer diferenças - como bom gosto do corte de cabelo nos anos setenta, ou que o azul é a cor mais bonita - a não ser que a dialética seja praticada por esporte, a serviço do bem viver.

Faz mister sublinhar que, além dos convivas, discordo de mais gente, para ser honesto, de todos, com exceção do Pig (sim, claro, dobro a língua para falar do Pig), e do Sol. A diferença é que acredito que meus confrades saibam argumentar sem apelar ao inviolável mistério das pirâmides ou ao sucesso da safra de almeirão em uma comunidade hippie, atestado pelos números dados pelos relatórios mensais de algum MSX, como se esses argumentos comprovassem veracidade de qualquer coisa que não seja, no fim, o alto consumo de maconha ou a necessidade da distribuição de babadores aos que usam semelhantes tipos de argumentos.

Todavia, fui alertado de última hora, não sei dizer por quem, acho que foi por Buda Cósmico ou pelo Deus Uga-Buga, que esta estória de discutir está fora de moda, o melhor é estourar a boca do inimigo com uma direita certeira. Mas e se o inimigo tiver tríceps muito avantajados e não tivermos em mãos um mísero tijolo sequer. Aí resta-nos ficar fazendo polêmica. Nossa, essa última emenda foi muito horrível! Mas vamos lá eu quero é falar da polêmica.

Repara, quando por costume ou distração ou até mesmo por maldade diz-se que um escritor é polêmico, usualmente se quer dizer muita coisa, muita mesmo, sobretudo uma, que ele é o Arnaldo Jabor ou alguém disfarçado de. Oras bolas, polêmica por polémica, sou mais o Pato Donald ou o Gabeira desfilando de tanga numa praia carioca para provar a descentralização do poder em nossa sociedade, como prega os arautos do pós-modernismo. Então eu pergunto a você, o que é ser polêmico? Não seria gerar estardalhaço com uma opinião que diverge da normalidade? Ou seria um gesto de pavonice, coisa típica de gente que camufla? Seja o que for, uma coisa é certa, para gerar estardalhaço com uma opinião divergente deve-se no mí­nimo ter um modo estiloso ou exuberante de se exprimir, e essa qualidade encontramos em muita gente famosa: no Jabor, no Pavão, no Dante Alighieri.

O negócio é separar o joio do trigo. Há muitas espécies de polemistas. Não sei quem foi que disse que rotular é coisa de reducionista. Meu Deus! Precisa de resposta! Pois que fique claro. Polêmico é apenas um predicado que se refere a algo ou a alguém que pode uma infinidade de outros predicados, o que não significa que este predicado possua, necessariamente, nenhuma primazia sobre os demais. Porém é deste predicado que trato. Então vamos seguir na tarefa de classificar as espécies de polemistas, tarefa bem besta por sinal e que eu poderia muito bem dispensar-me de fazê-la.

Em primeiro lugar, tem gente que escreve bonito mas pensa muito errado, tão errado que se torna polêmico, na medida em que suas idéias conseguem o feito quase milagroso de serem piores que a do senso comum. Mas alguns outros não só escrevem bonito como também escrevem bem, aliás, muito bem, e contudo, pensam errado, como é caso de Drummond, que era burrinho, gauche, e mimoso. Que seja escrito na pedra: a poesia é a melhor forma de disfarçar a burrice.

Mas tem gente que sabe pensar com autonomia, gente essa que costuma ter os livros empapados de suor. São mentes magní­ficas, que bravamente conquistaram o livre arbítrio às custas de horrorosas úlceras no estômago. Estes sim transcendem o meio em que vivem. Caso cheguem à mí­dia, são vistos com espanto, até o momento em que o povo percebe que são polêmicos, isto é, são amigos do Jabor. Argumentar-se-ia, talvez, que eu me empenho em polemizar a polêmica. Se você pensa isso vai tomar no cu.

Uma ressalva deve ser feita, a tí­tulo de se evitar malentendidos. No que se refere ao livre arbí­trio nos seres, acredito piamente que macacos bonobos e goianos são dotados maior liberdade de pensamento se comparado às pessoas comuns, uma vez que os pensamentos de ambos não se prendem a nada, nem a própria lógica. Não, também não seguem as leis de condicionamentos operantes nem associações humenianas, nem são organizadas por um sujeito transcendental kantiano. Suas associações, se é que tem alguma, são dadas ao sabor do momento, ou, quando muito, ditadas pelo cu.

"Esta é minha opinião, essa é sua, logo (preste atenção no logo) você me respeita, eu respeito você e estamos quites." De forma geral, quando escuto alguma atrocidade qualquer como essa, sinto um enérgico desejo de chorar. Na verdade, para ser sincero com você, sinto vontade de rir. Meu cérebro ri, mas minhas expressões faciais e o tremor em meu corpo não me denunciam, ou assim espero. Ou será que não é nada disso?- paciência, estou querendo ser sincero com vocês. Vamos lá, pensemos com calma, bom, já sei, devo fazer uso, aqui, de uma expressão que embora bem batida, está ainda intacta em seu teor de verdade: depende do caso.

Em alguns casos sinto de fato vontade de chorar, em outros, de rir, em outros, de vomitar. Mas se argumento é a bunda, de retrucar com argumento do mesmo quilate, dar nela um chute estralado com o peito do pé,- não, não, depende da bunda - que cada bunda ganhe aquilo que merece, e a melhor, aquilo que endurece. Sinto-me na oitava série.

Estou meio enrolado hoje. E isso, acredito eu, é conseqüência direta de meu estado de ser-no-mundo-hoje. Meu barômetro espiritual acusa excesso de vapor na alma. Meu instinto de sanidade, sempre apoiado na ciência, me diz que é melhor parar antes que o vapor se condense e comece a infiltrar na pineal, porque aí já era. Além do mais não agüento mais ficar sugerindo, sugerindo, blá, blá, blá, finhôum, nhunhunhu. Gostaria de ser alguma outra coisa que não eu mesmo, gostaria de ser mais juscelino. Ta aí­, me chamem de juscelino, eu gosto.

2:17 AM


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