!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
quinta-feira, outubro 17, 2002
S�vio na cidade grande.

Lendo um dos posts de Iago, lembrei do tempo que morava em Sampa, naquele apertamento bizarro l� na teodoro. Tinha muita coisa foda naquele apartamento, como a densidade demogr�fica. Mas uma coisa bem dif�cil era conseguir ler no ap�, mesmo nos raros momentos quando n�o tinha ningu�m l�.

Do lado de fora, l� em baixo, na rua, podia se avistar da janela uma infinidade de camel�s. O pior deles era um que passava o dia inteiro gritando, com uma voz meio aguda, maio nasalada, com uma tonalidade meio maquinal:

"Capa de video, capa de controle, s� um real, � s� um real"

e tinha outro que tinho o ponto bem do lado de dele e fazia coro com a cara da capa de v�de. Esse berrava:

" Ceeeeeeeeeeento e cinq��nta cotonete um real .� s� um real."

E assim ficava os dois anunciando seus produtos enquanto eu tentava estudar algo como f�sica matem�tica. Algumas vezes me dava um nervoso t�o grande - eu fecheva os olhos e podia sentir aquelas duas vozes entrando no meu corpo e fazendo vibrar todos os nervos respons�veis pelo nervos�smo. Chegava ao paroxismo da desespero e raiva, queria matar aquelas criaturas. �s vezes aproximava-me da janela e cuspia sem ser percebido. Outras vezes debru�ava sobre a janela e ficava obsevando o cara do cotonete e da capa de controle, para ver se algu�m comprava mesmo aquelas porcarias. O pior � que compravam. Mas o pior mesmo � que um dia eu mesmo comprei o cotonete.

Com o tempo estes dois camel�s foram tomando para mim uma significa��o estranha. � dif�cil explicar. � como algu�m que est� na floresta e escuta um bando de p�ssaros, mas n�o ouve estes p�ssaros. Assim, n�o era mais berro o que escutava, eram piados, sons naturais, que iniciavam as oito e tinham t�rmino as seis da tarde. Para mim, estes camelos s� existiam enquanto gritos, eram mais um grito do que um camel� mesmo. Era, por assim, dizer, um grito que por acaso tinha uma parte material. Esse grito aparecia em tal hora do dia e ia embora em outra hora. N�o tinha fam�lia, paix�es, medo da morte nem nada.

Porra, mas imagina, uma pessoa que passa todos os dias gritando a mesma frase � quase um monge entoando infinitas vezes seu c�ntico. Sei l�.

Mas fico aqui por hoje. Pensava em falar do "Grupo S�rgio", onde com�amos esfihas por dezenove centavos. N�o sei porque, mas me causa uma emo��o muito grande relembrar de eu sentado na mesa da rua, em frente um puta avenid�o, comendo aquelas esfihas, borrifadas de catchup, discutindo se Einstein era picareta ou n�o, num lugar onde eu era muito mais que an�nimo, onde ningu�m de meu passado me conhecia.

11:48 AM


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