Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.
Ontem mesmo fui ao cabeleireiro. � a sugunda vez que vou nele. Ele n�o se lembrava de mim. Mas falou as mesmas coisas que tinha falado da �ltima vez, dois meses atr�s. N�o sei se foi associa��o pavloviana ou o cara fala as mesmas coisas para todo mundo.
O sujeito era ultraconsevador de primeira, tinha a idade de setenta anos, embora aparentasse cinq�enta. Disse que uma das obriga��es da mulher � estar sempre cheirosa.
Come�ou a certa altura a falar sobre sua filha e na logo na seq��ncia disse que a mulher pensa com o �tero. Deu tamb�m alguns conselhos para mim. O pior � que falava tudo isso com muita seriedade. Disse para n�o transar com uma mulher sem que ela estivesse excitada, porque se a vagina estiver seca, ela sente dor.
Al�m disso, aconselhou-me a ir me masturbar caso a mulher n�o quisesse transar. Pois voc� fica tranq�ilo e n�o atrapalha o relacionamento. Disse mais um monte de barbeiridades.
Fez um longo discurso criticando o imediatismo. Distinguiu entre o ex�tico e o tradicional. Erigiu uma teoria relacionando o pezinho na nuca e o car�ter da pessoa. Pezinho muito alto � coisa de caipira, pezinho baixo � coisa de quem tem complexo de inferioridade. Fiquei chocado, pois nunca soube ao certo o tipo de pezinho que os outros cabeleiros fizeram em mim. Vai que eles quiseram zoar da minha cara, ou melhor, da minha nuca.
O cara era bizarro mesmo. O nome dele, Ulisses. Juro, � tudo verdade. Posso at� passar o endere�o dele para quem quiser.
Antes frequentava um outro que era te�logo. Sempre o encontrava na sinf�nica. Este tinha quase noventa anos, mas aparentava sessenta. Agora estou pensando, seria interessante fazer uma pesquisa sobre o assunto: barbeiros e a longevidade. Ouvi dizer que pintor, n�o de parede, tamb�m vive muito, mas a� j� � boato.