!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
segunda-feira, setembro 01, 2003
Não é poesia

A poesia se descarna em minha frente.
Pois vazo ferro e sangro bois de rios.
Li recentemente sobre a inveja.
Concluí que não é boa.

Concluí em mim mesmo,
Na solidão de meu siêncio,
Enquanto sub-ouvia uma música.

Lá fora pessoas faziam coisas.
Muitas coisas elas faziam.
Sei que um olho espiava o vizinho,
E o outro contava o dinheiro.
E um teceiro, se não me engano, buscava Deus,
Então travou guerra em meu pensamento.

Estava na cama deitado, descarnado.
Queria algo que não tinha
E não podia ter.
Pois esse algo que queria era não ter
Nenhum problema a resolver,
Nenhuma necessidade,
Que cutuque minhas costas
E me faça andar condoído.
Com dor nas costelas.

E foi por aí­ que encontrei a miragem de seus lindos olhos,
Olhos que não se vêem,
Mas que são tão bemvistos por mim,
Onde encontrei o simples reflexo de uma sublime beleza que encontro sem querer.
O desejo deve ser desejado.

Foi assim, meus amigos.
Foi assim que me ergui.
Foi assim que meu pulmão começou a respirar com gosto.
E o estômago roncar de felicidade.
Não sei como, nem bem sei se mereci, mas Deus me deu um amor.
Devo ter merecido. E agora sonho outra vez,
E não mais me range os dentes ao calar a noite,
Quando apenas cães e grilos alvoroçam na esquina.

Agora vejo outra vez, sentado na pedra, no topo da montanha talvez,
Um homem com a mão no queixo,
Que olha para o chão e não teme as formigas,
Que não vê na fumaça da maconha o fantasma da culpa.
Que olha para o horizonte e não teme os abismos,
Da escuridão, da incomunicabilidade,
Da inveja, da desgraça
E do destino que farreia e anovela minha vida.

Outra vez sinto a tristeza, vejo chorar o dia,
A lua minguante sorrindo,
O sorriso do gato de Alice,
Só que amarelo.

As mãos deslizam no corpo e faz o coraçao quente.
Mas ao longe,
Depois das areias do deserto
Vejo um monte de fezes que trespassa a atmosfera.
E ri, com ironia triunfante, do ridí­culo que há por trás de todas as coisas.
Da besta animalidade, como bem disse meu demônio num dia de fogo.
Mas se pego o demônio no pulo e descubro suas entrelinhas,
Ah! Que bom!

Olho para trás e avisto Empédocles,
Cubro-me de susto.
Uma ponta de vergonha emerge dos dias passados
De debruçar tanto sobre mim mesmo,
E passar horas vadias lambando o próprio rabo.
E de suspeitar que no fundo de minha linguagem haja um certo segredo que me sustenta.

Bom mesmo é contemplar o cosmo.
Intuir nas formas naturais sua composição.
Quatro elementos,
Simples,
Irredutí­veis.
Tudo,
Cadeiras, orquí­deas, guerras, havaianas
Por força do amor e ódio,
Se forma,
Desforma,
Transforma.
Em carinho, em pelúcia, em bombril, em estrelas, em carne.

Quatro elementos. Duas forças.
Eis a aqui a confiança no divino aperto de mão entre as palavras e as coisas por trás das coisas,
As coisas lá fora da linguagem.

Fora da linguagem existe o prático.
O fazer de um macaco catando frutas.
E saindo de pica dura atrás da fêmea,
E outros macacos peludos que cobiçam o poder.


Mas se lí­ngua desce,
desliza pelo braço,
Chega na mão,
Tenho instrumento.
Em língua imperativa,
sugestiva.
Que serve para roçar, sibilar, blablablar, transformar estado,
Alguma valia se encontra,
Pois é sabido no Rio Sucuriu
Que existem coisas que coabitam nossa temporalidade.

No seio da indiferenciação sujeito-objeto
Meti as caras e sonhei,
Com o tempo pré-socrático,
Quando a poesia enlaçava a ciência,
E tudo era mais confuso e mais bonito.

Shakeaspeare também olhava a natureza,
E encontrava nos rios e nas carpas metóforas certeiras.

1:36 AM


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