!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Antigo blog do pulmao




























Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
terça-feira, setembro 30, 2003
Cena

Se eu tivesse tempo, falaria de uma janela e das coisas por trás da janela. Uma tarde chuvosa. Uma menina debaixo do guarda chuva comendo algodão doce. Um arco-iris. E um carro passando devagar. Ah! Tambem falaria do tanto que é bonito quando chove e faz sol ao mesmo tempo.

Nesse momento sinto que falta algo nesse cenário. Não sei. Talvez seja o reflexo da luz em alguma poça. Talvez sejam os prédios por cima dos homens. Talvez seja o pássaro, ou melhor, uma dúvida sobre o pássaro, estaria ele molhado? Talvez falta apenas um pouco mais de cor, uma tonalidade violeta. Isso! Chuvendo ao por do Sol. Talvez para completar mesmo a cena esteja faltando a amada. Do outro lado da janela, ao meu lado. Estou enlaçando-a. E como falar dela sem falar em seu perfume? É. Tava faltando um aroma nessa cena. A cheiro de chuva com o perfume que nos inspira o que há de melhor. É importante também dizer que a janela é uma janela de um apartamento. Tem grades a janela? Não. Se tivesse eu falaria. Pronto. A cena está pronta.

Um último detalhe: ela sorri.

2:23 AM



Um estória que se encontra sem querer

Contra a minha vontade, eis-me uma vez mais aqui, neste receptáculo de lixo nervoso, nesta boca aberta ao mundo que se chama não sei o quê.

Mal começo a escrever e já começo a desistir. Sempre sinto que não tenho nada para escrever. Nunca encontro nada de interessante no vasto tempo entalado na minha alma. O mar de minhas recordações secou, de vez em quando parece que tem uma pocinha azul, mas é só miragem.

Sento-me, permaneço de cócoras, abraço meus joelhos. Tudo é deserto. Pó. A umidade do ar: sete porcento. Se ao menos encontrasse um São Bernardo que me trouxesse conhaque. Se ao menos encontrasse uma freira safada. Se ao menos encontrasse em alguma circunvolução de meu cérebro um problema político, que me servisse de tapete para deitar e rolar. Ou talvez uma piada.

Uns três dias atrás ouvi uma piada, a de uma loira que tinha que dar o cu para um negão e não peidar. Em troca ganharia um tapete. A loira não conseguiu, peidou. A mãe dela, defendendo a honra da família também deu o cu para o negão. Fracassou. Então, a vó da loira, velha mofina, que mal conseguia andar, pegou um busão, foi até a loja de tapete, encontrou o negão e foi tirar satisfação. No fim da tarde a velha, que tinha o cabelo meio branco, meu tingindo de loiro, chega mais manca ainda, com o tapete enrolado nas costas. Sua filha e sua neta se espantam e pensam consigo mesma, orgulhosas de sua linhagem, e do cu poderoso da véia.

A neta, dando pulinhos:

- Eu não acredito. Você conseguiu vovó!

A velha simplesmente respondeu que não havia peidado mas cagado, lambuzando toda a superfície do tapete. E trazia o tapete apenas para lavá-lo.

Se eu não me engano, a velha disse assim:

- Realmente. Peidar, não peidei. Mas, infelizmente caguei naquele tridente do diabo. Perdemos o tapete. A nossa família de loiras foi desonrada. Abdico de todos os meus cargos públicos e privados, cubro-me de cinzas. Minha vida não é mais vida. Passerei o resto de minha vida conzinhando, indo em quermesses. Mas de que me adianta ser a campeã do Bingo, se derrotada por uma benga.

- Mas mãe, o membro era gigante. Não te aborreças, não carregue esse fardo. Ademais, a elasticidade de teu anus já está comprometida. Tenho certeza de que, se fosse na época em que a senhora era novinha, a senhora conseguiria. Isso é normal na idade. As pregas do cu, mamãe, serve para fechá-lo, tá certo, mas também serve para abri-lo. Além do mais, tenho certeza que se a senhora tivesse defecado um pouco antes, isso não teria acontecido.

Enquanto a mãe falava, a neta, com um jeitinho meigo, fazia um sinal com a cabeça, em concordante compreensão às palavras da mãe. Mas a velha parecia não querer saber de desculpas.

- Esse negão vai ver. Amanhã comprarei um consolo, e treinarei incessantemente. Cada vez consolos maiores. Aquele negão vai ver.

Três meses depois, o marido da velha loira começou a perceber algo de errado. Tirou os olhos do jornal, e da sua poltrona avistou sua mulher, de quatro, no tapete da sala, enfiando um gigantesco consolo no boga. Ou melhor, sua netinha é que enfiava. Gotas de suor escorriam da testa da velha e deslizavam pelas rugas, algumas caiam no pé do marido. O marido então disse.

- Você não acha que está passando dos limites.

A velha então retrucou, sôfrega:

- Não. Ah! Não.

A neta da loira, que era uma loirona de dezoito, ajudava a sua vozinha, dando incentivos psicológicos. Frases como: "Vai vovó, você consegue.", "Acredite em si".

No quarto mês a vovó aparece na loja de tapetes. Estende o tapete no chão, já lavado. O negão começa a comê-la. O trato: se não peidar o tapete era dela. O negão começa. Vê que o páreo vai ser duro. Experiente que é, percebe que os intestinos da véia estão murchos, não tem peido, nem merda. O negão afunda mais, na esperança de encontrar uma ilha de peido no fim do tunel. Nada. A velha é só triunfo.

Então a velha, como que juntando forças, olha para os parentes e amigos que foram até a loja para apoiá-la. Na pequena multidão que se forma em torno do tapete, também estão presentes alguns curiosos ou uns dois ou três compradores ociosos que aproveitaram para ver aquela cena bizarra. A velha olha especialmente para seus netinhos, que abanavam cartolinas em que eles mesmo escreveram frases de apóio. Filhos, genros, netos, todos torciam pela véia. Todos estão lá. Só o marido não compareceu, alegando dor de cabeça. Uns diziam que era ciúme, mas não importa. Todos vibravam. O negão utilizou todo o repertório de técnicas que conhecia. Metia fazendo certos movimentos rotatórios com o tronco, de modo ao pau girar no intestino, partindo da suposição de que seu pau estivesse impedindo a saída do peido. Mas nada, nem um arzinho. A velha resistia. Depois de cinco minutos a velha, pressentindo a vitória, em vez de ficar apoiada com os dois braços no chão, teve a ousadia de ficar apoiada com um único braço, levantando ao ar o outro braço com os punhos fechados: o sinal da vitória, do triunfo, e da glória da família. Nesse momento os familiares entraram em êxtase, pulavam e abraçavam uns aos outros.

A imprensa já havia chegado. Um dia depois, a sairia a notícia em rede nacional. Fotógrafos de todos os jornais tiravam fotos de todos os ângulos. Saiu na capa de um dos jornais mais importante do Brasil aquela cena que eu já descrevi. A velha de quatro, um braço da frente apoiando no chão, o outro levantado como no sinal da vitória, um meio sorriso de orgulho, triunfo e supremacia da raça. O negão, atrás, como uma cara de desespero, derrotado.

E finalmente o negão tirou o membro. A vitória era da velha. Não tinha o que se discutir. O tapete era dela. Ficaria no meio da sala de visitas, servindo como troféu. E mais que o tapete, a honra da família estava salva.

Foi um momento deslumbrante, os que viram falam que nunca viram nada igual. Uma lição de perseverança, de caráter. Todos afirmara que depois disso aprenderam a valorizar a honra, coisa que dinheiro nenhum compra. Aprenderam também que para se conseguir o que se quer é necessário, muitas vezes, superar a dor. Era uma heroína, sem dúvida. Ouvi dizer que o padre da paróquia que a velha freqüentava havia reprovado a atitude. O pessoal dizia era normal que o padre tivesse essa opinião. Bom, mas a verdade é que todos no bairro, todos que presenciaram a cena, eram unânimes quanto ao grande valor da velha.

1:32 AM


segunda-feira, setembro 22, 2003
O Bravo.

Ficarei na minha luta vã para não escrever nada. Tudo o que escrevo é nada. E nada é o gosto do milho, que, por ser amarelo, não é totalmente aquilo que se chama focinho de lontra. Entendeu, não. Não, não, não, NÃO. Nu em Nova Yorque é um filme que transborda sabedoria. Todos devem assistir Nu em nova York. É lá que ficarão sabendo o real significado de todas as coisas.


A beleza

Encontrei, ontem a noite, do outro lado da esquina, a beleza. Encontrei-a entre o fora e o dentro. Entre o cosmo e o Eu. Mas era tão bonita. Tão bonita. Linda, Linda. Fiquei encantado e...
...
...
... repousei meu coração. Um fogo manso e delicioso fazia meu coração ficar quietinho. Sentia-me bem, sentia-me nobre, vendo a beleza olhar de modo tão sutil para mim. Quando já era madrugada, abaixei um pouco mais e comecei a lamber o chão. Vocês não vão acreditar, mas o chão era de chocolate. Mas de repente o chão virou concreto e depois virou abstrato e depois virou conceito. Então, deixa eu confessar de uma vez por todas, senti orgulho, pois lambia um conceito. Minha língua é muito grande. Uma vez enfiei a língua dentro de um cano e abracei o mundo com minha língua. Outra vez, quando estava no quintal de casa, deitei no chão e tirei a língua para fora, minha língua então começou a subir, subir, subir. Cada vez mais minha língua crescia, parecia uma antena, mas fui fazendo força e ela foi subindo mais ainda, ultrapassou a estratosfera, raspou na lua, entrou num buraco negro. Senti orgasmo. Me senti, por dois segundos realmente me senti, alí, estirado no chão de meu quintal, me senti o homem-deus. Mas foi só por dois, dois segundos apenas. Aí, recolhi a língua para dentro da boca e fui conversar normalmente com todos aqueles sujeitos honesto que trabalhavam em frente da construção de minha casa.

- Bom dia pedreiros, bom dia mestre de obras, bom dia servente de pedreiro.

- Bom dia, amigo. O que você quer de nós?

- Quero conhecimento.

- Cê é tonto. Não sabemos nada além de construir casas.

- Falo sobre as coisas da vida.

- Ah! Entendo, coisas como comer bem e ter uma vida boa.

- Sim!

- Isso não falamos, ninguém pode contar para ninguém.

- Como assim?

- Nunca ouviu, está na Bíblia e em todos os livros e em todos os lugares. Se você fala para alguém qual é a melhor maneira de viver, a maneira de viver deixa automaticamente de ser a melhor. Por isso. Aqueles que sabem a melhor maneira de viver nunca contam para ninguém. Pois se contassem não mais saberiam.

- É muito triste saber isso.

- Julgue como quiser, mas a verdade é essa.

- Tudo bem, meus amigos pedreiros. Posso trabalhar um pouco com vocês?

- Você está louco, ninguém quer trabalhar de graça. Você só pode estar louco. O que você quer com isso. O QUE VOCÊ QUER?

- Eu quero apenas trabalhar um pouco com vocês.

- Tudo bem, o problema é seu. Pegue para mim aqueles tijolos. E depois misture a cal com o cimento.

Suei em bicas, estava um dia muito quente. Os tijolos eram pesados e por vezes o vento soprava a cal em minha cara, obrigando-me a respirar aquele ar esbranquiçado. Sentia que ia morrer asfixiado. Várias vezes tossia. Quando tossia, os pedreiros davam risada, rachavam o bico. Então eu também ria um riso meio amarelo. Um tempo depois estava exausto, meus músculos tremiam, sentia a força da gravidade como Newton nenhum jamais sentiu.

Os períodos em que me sinto melhor são os períodos em que fico orgulhoso. Não tenho orgulho por exemplo das minhas roupas, não tenho orgulho de minhas posses, não tenho orgulho de muita coisa, tenho orgulho daquilo que eu penso. Não tenho tanto, é verdade. Às vezes queria me tornar um vegetal, digo, um vegetal bonito.

12:15 AM


segunda-feira, setembro 15, 2003
A ordem

Recebi recentemente o seguinte mensagem, ou notícia.
Autoria: Gustavo.




Glaera de Pnepálois,

De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em
qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é
que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser
uma ttaol bçguana quevcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue
nós
não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.

eu gsotei de ecserver dseta mnaeria, não preicsmaos mais coerdnar os
ddos ao ditigar...

Abaçros,



10:26 PM


terça-feira, setembro 09, 2003
Ele

Ele acordou, escovou os dentes, penteou o cabelo. Carro. Café. Pão de queijo. Conversa. Leitura. Conversa. Come. Roça a comida com lí­ngua, espreme-a contra o céu da boca. Comida. Alface. Saúde? Nem tanto. Cerveja? Não é hora. Pra tudo tem hora. Interjeição. Piada. Riso. Coração. Emoção. Fisiologia. Ácido. É o estômago. Esporte. Saúde? Ah! Sim, saúde. Motivo. Deixa para depois. Depois chega. Esqueceu. Está ocupado em fazer outra coisa.

Dilatou o instante. Fez alguns objetos falarem. Fez papel sussurar e dormiu.

1:53 AM


quinta-feira, setembro 04, 2003
Apresentação

Sou o Pulmão Cabeludo, um sujeito que vê o mundo para além das aparências. E como não vejo nada por trás das aparências, vivo como um cego errante. Acredito, portanto, que a verdade não existe. Tudo é questão de crença. Algumas melhores, outras piores. Algumas crenças são mais frutíferas e, portanto, produzem mais frutos, constroem foguetes, outras confortam a alma, e outras fazem esquecer de tudo.

Tenho uma única missão: ser feliz. Uma parte de mim diz que sou composto de merda. Outra, que sou um Deus. Uma terceira, mais ponderada, diz que sou um rapaz latino-americano.

Nunca soube quem eu sou. E não quero nem saber. Já disse. Quero ser feliz como uma criança. Mas uma criança feliz.

Dizem que a substância é uma espécie de uma bolsa, portadora de qualidades, atuais e potenciais. Uma loucura!

Um outro pulmão certa vez me afirmou que existem dois mundos. O mundo da realidade e o mundo pessoal. No mundo pessoal imaginário, tudo é possível. Se não me engano Buda Cósmico disse algo assim. Pois todas as situações reais podem ser imaginadas, mas situações irreais também podem ser imaginadas. Logo, o mundo real está contido no mundo da imaginação (a maior prova disso, segundo Brasil Schinik são os números imaginários, que não existem na realidade, só na imaginação). Decorre daí que o mundo dos sentidos é produto da imaginação mais ou menos ordenada de Deus. Caso contrário não me chamo Pulmão Cabeludo.

Certa vez cheguei a conclusão que para ser feliz é necessário amar. Daí comecei a me empenhar em amar. Depois cheguei à conclusão que é preciso também algum dinheiro. A partir daí comecei a ir atrás de dinheiro. Depois disso, é necessário que o mundo pessoal seja elegante. A partir daí comecei a embelezar o mundo interior. Isso é tudo. O resto é conseqüência lógica ou ilógica destes postulados. Ah, também é importante se assustar com o mundo. Comecei então a me assustar com o mundo.

2:05 AM



Republicações

Com a mudança da blogspot, todos os meus arquivos se perderam. Resolvi então tomar uma atitude frente a isso. Abri a gaveta e tirei de dentro uma chupeta. Chupei durante três horas mais ou menos. Mas nada adiantou. Então taquei a chupeta no fogo e resolvi republicar alguns deles. Aos poucos irei consertando-os, retocando-os, e republicanos.

1:59 AM



Jacu

A grande maioria das pessoas com que convivo são jacu. Desculpem-me se não coloco o termo no seu devido plural. É que julgo impossível dizer “jacus”. Não faz sentido, soa latim: “jacus mundi est”, acaba dando um ar de coisa chique, desviando de seu sentido original.

O que é ser jacu? Penso ser impossível precisar seu significado. Jacu é um daqueles termos irredutíveis, que não permitem a troca por um sinônimo sem que o termo sofra sérios prejuízos. Assim, enfatizo, não há condição de traduzi-lo para qualquer outro idioma. A única forma de um idioma entender o que é jacu seria apropriando-se do termo e incluindo-o em seu vocabulário. Se é que as palavras são mesmo vírus, basta infectar a outra língua para que esta seja contaminada. “Are you jacu?”. Embora seja bem provável que o francês ofereça menos resistência, dada sua sonoridade: “Je suis beaucoup jacu”.

Não há outro meio, só através da convivência empírica com essa palavra o seu conteúdo pode ser, digamos, intuído. Na verdade, nem é de todo correto enunciar a sentença acima citada. Pois no caso de jacu, significante e significado estão terminantemente unidos. Erro grosseiro julgar que jacu seja semelhante a uma bolsa onde se guarda algum conceito, ou o conteúdo da jacuzisse. Jacu é a soma do conteúdo com o continente. Isso é jacu.
Bom, como ia dizendo, boa parte de meus amigos são jacu. Espero que depois de toda essa explicação sofisticada, eles não se sintam ofendidos, posto que jacu é algo muito complexo, dada a sua simplicidade. Espero também que não pensem que um dos componentes deste predicado a que lhes atribuo tenha a ver com caipira, ignorante, xucro, muito menos medíocre. Nada mais além de ser jacu.

É importante salientar, antes que me esqueça, de que não consigo pensar em um antônimo de jacu. Talvez caju. Mas aí já é criancice, já passamos da idade, essas coisas. O fato de uma alguém ou algo ser jacu não exclui, em hipótese alguma, a possibilidade de receber qualquer outro adjetivo, seja lá qual for. Podemos dizer, e isso é bem verdade, que alguns outros predicados sentem por jacu uma espécie de força de repulsão, não impedindo, contudo, de coexistirem. Nenhum problema, portanto, em dizer algo como “Ele é jacu, triste e elegante”. Concluindo: há um campo de força com características particulares em torno jacu. Inferir que um homem jacu não possa ser triste é o mais puro preconceito.
Então que assim seja. Termino com abraço apertado para todos os meus amigos jacu.

1:55 AM



Freud, amigo da garotada

Freud, neurologista frustrado, erigiu toda a psicanálise a partir da psicopatologia. Para entender a mente de um sujeito normal, usou como matéria prima as suas investigações o homem doente. Após alguns anos de estudo e evolução, supôs que tudo aquilo que uma mente lunática possui, nós, terráquios, também possuímos. A diferença entre a nós e os psicóticos, histéricos, etc não seria, portanto de espécie, mas sim de grau. O fenômeno da loucura se manifesta em degrade.

Lógico que tal procedimento metodológico é visivelmente reducionista. Pois apreende a realidade humana sob a perspectiva da doença, de forma parcial, imprimindo relevo à certas porções da subjetividade enquanto outras mais altas e quem sabe mais esquisitas são preteridas ou, na melhor das hipóteses, jogadas no saco da sublimação, como se nomear o problema fosse resolvê-lo.

Sublimação se refere a toda aquele energia sexual que não é descarregada em seu objeto original, e assim segue outro caminho, mais simbólico e mais sublime. É uma compensação vertical. Exemplo grosseiro: o consciente chupa um sorvete, mas seu inconsciente quer mesmo é chupar rola. Mais grosseiro ainda: O poeta escreve sobre o abismo negro para isentar-se de práticas sexuais bastante sujas. Assim, sublimação entra no conjunto destes conceitos tão amplos a ponto de se tornarem tão vagos quanto inúteis. Um conceito que tudo explica, nada explica. Para o nosso judeu, a arte não passa de sublimação.

Só isso?

Arte é muito mais que isso, seus psicólogos estreitos!

1:47 AM



American Pie

Estou de volta ao tablado dos blogs. E já estou par da nova onda. Do novo estilo que se esboça em páginas e páginas da mais pura alegria. Gabolice? Não, tô fora.


Antonio Damasio, comparsa de Oliver Sacks, analisa em seu livro "O Erro de Descartes" a relação entre emoção, razão, corpo, cérebro. Aos poucos ele vai descobrindo, através dos novos avanços sobre o conhecimento do cérebro, coisas o que os chineses já concluiram cinco mil anos atrás, e que Machado já martelava nos fins do séc. XIX. Os sentimentos se originam a partir da leitura que o cérebro faz dos estados do corpo. O cérebro recebe informações do corpo através substâncias químicas no sangue, e das vias neurais relativas a porção visceral e músculo esquelética.

A teoria de Damasio seria, portanto, uma complexificação da concepção de Willian James, cujas intuições psicológicas só teriam par, segundo o autor, em Freud e Sheakeaspere. Em suma, todo sentimento está ligado ao corpo. A depressão, por exemplo, pode afetar o sistema imunológico da pele, formando feridas purulentas que podem levar ao câncer. E a paixão está associada à elevação, no sangue, da quantidade de uma substância de nome, se não me engano, oxitina. A produção de oxitina aumenta estrondosamente quando você passa o dia inteiro embiroscado com o seu parceiro, cheio das fuinhas e dos futruques.

Mas deve-se fazer justiça, a medicina chinesa, embora menos compacta que a teoria e Damásio, vai muito mais longe do que neurofilo português. A medicina chinesa relaciona com facilidade aspectos tão dispares da realidade, que chegam a causar vertigem: como o horário do dia, o órgão do corpo, o sentimento, o alimento e o clima, e talvez até a cor do ônibus. Isso, na medida em que enquadra todos esses elementos em categorias metafísicas comuns, originárias da díade Yin –Yang. Assemelham-se muito as ditas cosmogonias intuitivas do ocidente, com a diferença de serem cinco em vez de quatro. Metal, Ferro, Madeira, Água e Fogo.

A vantagem é que são categorias amplas suficientes para abarcar qualquer aspecto da existência, permitindo uma análise intricada da dinâmica do relacionamento de todas as coisas com todas as coisas, para além de uma causalidade linear, como o é a psicossomática: a depressão causando estragos no corpo. Simplista demais para um Chinês, que vê no bom funcionamento do estômago o outro lado da paciência e no bom funcionamento do fígado uma das faces da criatividade.

1:13 AM


segunda-feira, setembro 01, 2003
Resposta

Pergunta: "Você se considera superior a mim?"
Resposta: "Se eu pensasse em você, talvez pudesse responder a sua pergunta".

Pergunta:" Qual o valor do valor?"
Resposta: "Pergunta pro Nietzsche."

2:53 AM



A intimidade

A intimidade é sempre gostosa.

2:41 AM



Não é poesia

A poesia se descarna em minha frente.
Pois vazo ferro e sangro bois de rios.
Li recentemente sobre a inveja.
Concluí que não é boa.

Concluí em mim mesmo,
Na solidão de meu siêncio,
Enquanto sub-ouvia uma música.

Lá fora pessoas faziam coisas.
Muitas coisas elas faziam.
Sei que um olho espiava o vizinho,
E o outro contava o dinheiro.
E um teceiro, se não me engano, buscava Deus,
Então travou guerra em meu pensamento.

Estava na cama deitado, descarnado.
Queria algo que não tinha
E não podia ter.
Pois esse algo que queria era não ter
Nenhum problema a resolver,
Nenhuma necessidade,
Que cutuque minhas costas
E me faça andar condoído.
Com dor nas costelas.

E foi por aí­ que encontrei a miragem de seus lindos olhos,
Olhos que não se vêem,
Mas que são tão bemvistos por mim,
Onde encontrei o simples reflexo de uma sublime beleza que encontro sem querer.
O desejo deve ser desejado.

Foi assim, meus amigos.
Foi assim que me ergui.
Foi assim que meu pulmão começou a respirar com gosto.
E o estômago roncar de felicidade.
Não sei como, nem bem sei se mereci, mas Deus me deu um amor.
Devo ter merecido. E agora sonho outra vez,
E não mais me range os dentes ao calar a noite,
Quando apenas cães e grilos alvoroçam na esquina.

Agora vejo outra vez, sentado na pedra, no topo da montanha talvez,
Um homem com a mão no queixo,
Que olha para o chão e não teme as formigas,
Que não vê na fumaça da maconha o fantasma da culpa.
Que olha para o horizonte e não teme os abismos,
Da escuridão, da incomunicabilidade,
Da inveja, da desgraça
E do destino que farreia e anovela minha vida.

Outra vez sinto a tristeza, vejo chorar o dia,
A lua minguante sorrindo,
O sorriso do gato de Alice,
Só que amarelo.

As mãos deslizam no corpo e faz o coraçao quente.
Mas ao longe,
Depois das areias do deserto
Vejo um monte de fezes que trespassa a atmosfera.
E ri, com ironia triunfante, do ridí­culo que há por trás de todas as coisas.
Da besta animalidade, como bem disse meu demônio num dia de fogo.
Mas se pego o demônio no pulo e descubro suas entrelinhas,
Ah! Que bom!

Olho para trás e avisto Empédocles,
Cubro-me de susto.
Uma ponta de vergonha emerge dos dias passados
De debruçar tanto sobre mim mesmo,
E passar horas vadias lambando o próprio rabo.
E de suspeitar que no fundo de minha linguagem haja um certo segredo que me sustenta.

Bom mesmo é contemplar o cosmo.
Intuir nas formas naturais sua composição.
Quatro elementos,
Simples,
Irredutí­veis.
Tudo,
Cadeiras, orquí­deas, guerras, havaianas
Por força do amor e ódio,
Se forma,
Desforma,
Transforma.
Em carinho, em pelúcia, em bombril, em estrelas, em carne.

Quatro elementos. Duas forças.
Eis a aqui a confiança no divino aperto de mão entre as palavras e as coisas por trás das coisas,
As coisas lá fora da linguagem.

Fora da linguagem existe o prático.
O fazer de um macaco catando frutas.
E saindo de pica dura atrás da fêmea,
E outros macacos peludos que cobiçam o poder.


Mas se lí­ngua desce,
desliza pelo braço,
Chega na mão,
Tenho instrumento.
Em língua imperativa,
sugestiva.
Que serve para roçar, sibilar, blablablar, transformar estado,
Alguma valia se encontra,
Pois é sabido no Rio Sucuriu
Que existem coisas que coabitam nossa temporalidade.

No seio da indiferenciação sujeito-objeto
Meti as caras e sonhei,
Com o tempo pré-socrático,
Quando a poesia enlaçava a ciência,
E tudo era mais confuso e mais bonito.

Shakeaspeare também olhava a natureza,
E encontrava nos rios e nas carpas metóforas certeiras.

1:36 AM


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