Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.
quinta-feira, junho 17, 2004 A psicologia dos Pré-Socráticos
Uma pessoa que gosto muito disse-me que se eu continuasse escrevendo sobre certos assuntos eu acabaria tendo-me como único leitor.
É triste. Gostaria de ser muito popular, amado por todos. Gostaria que uma multidão de gente me esperasse no aeroporto, com faixas dizendo que amam e me adoram. Mas enquanto isso não chega, fico aqui, em casa, a pensar sobre a psicologia dos pré-socráticos.
Falar de Pré-Socrático está na lista negra, só me levará ao anonimato. Mas, de vez em quando, sou tomado por forças estóicas a seguir o caminho da verdade, e devo admitir que praticamente desconsidero todo conhecimento filosófico de Sócrates para frente, incluindo Nietzsche.
Não é à toa que gosto tanto, estudei muito para chegar aos pré-socráticos e perceber o tanto que é verdadeira, por exemplo, a seguinte afirmação, de Heráclito:
"É prazer para as almas tornarem-se úmidas."
ou:
"A alma mais seca é mais sábia a melhor."
Não há relativismos. É de uma estarrecedora pontualidade e exatidão. Não entendo porque a FUVEST não apresenta perguntas como a seguir:
1) Qual alma é mais sábia e melhor?
a) a úmida.
b) a seca.
c) a que segue o imperativo categórico.
d) alma não existe, portanto, a pergunta não faz sentido.
e) nenhuma das anteriores.
Não devemos esquecer que é grande prazer para as almas se tornarem úmidas, o que revela que Heráclito já sabia que o caminho do simples prazer não é o melhor.
Provas:
"Na hora do prazer a gente sente a alma umidecer, e sentir a alma umidecer é gostoso, realmente. Mas logo depois dá um grande mal estar, o que os vulgos chamam de ressaca. É dificílimo secá-la novamente. Sei de um padeiro que teve sua alma tão umidecida numa noite de Carnaval, que precisou passar toda a quaresma, a água e pão, para secá-la novamente."
Juremar.
Nelson Rodrigues constata que nada como o prazer do sexo para se gerar o canalha.
E se isso não convence lembro que em The Waste Land, de T.S. Eliot, os títulos da terceira e da quarta parte do poema são, respectivamente:
"O sermão de fogo" (alusão à Heráclito: tudo é fogo).
"Morte pela água" ( o hedonismo absoluto, típico daquelas pessoas que buscam viver o hoje como se fosse o último dia, se eu vivesse assim, com certeza já estaria morto há muito tempo).