!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Antigo blog do pulmao




























Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
quarta-feira, junho 30, 2004
"Wunderblogs ativar!"

Em breve haverá lançamento do livro dos wunderblogs. Os cavalheiros e as damas esperam ansiosos pelo lançamento. Não exagero: no dia 5 de julho inaugura-se uma nova fase na literatura brasileira.

O post, célula formadora do blog, não pode ser categorizada nem como crônica, nem como poesia, nem como material de confissão . Sua essência é a liberdade. O post pode ser uma frase, um verso, uma genuflexão, pode contar com figura, pode ser uma única figura.

O post tem uma liberdade sem par na história da literatura, da arte, ou da comunicação. Não precisa de uma filosofia que o justifique tal como a arte pós-moderna. Essa liberdade também desfruta o próprio blogueiro. Compara-se a um jornalista dono de seu próprio jornal. Isso por uma razão simples: o baixo custo econômico de manutenção de sua página na Internet.

O resultado é que o blog tem o rabo liberto dos punhos daquele leitor que costuma ficar bem no meio da gaussiana. E não é por acaso. Esse ser medíocre por excelência representa o leitor ideal dos meios de comunicação em geral, o jornal tem a obrigação agradar para não falir. Já o blog pode ter o prazer ou o luxo de vir a agradar, mas nunca a obrigação, eis uma das grandes diferenças.

Dessa falta de comprometimento e de obrigação segue que o blog torna-se uma das expressões máximas do homem contemporâneo, do indivíduo, no sentido forte do termo. Dentro de um blog, encontramos o ser humano com suas particularidades, debatendo com a mídia, com seu mundo. E outras vezes abandonando o mundo e mídia para apenas dar risada e viver bem, no espírito da bossa-nova, leve, risonha e feliz, pois como bem sabem os wunderblogs, o indivíduo é mais do que um coágulo ideológico.

E não se encontra entre eles, como acreditam os jumentos, uma uniformidade de idéias, de gostos, de posições políticas, de assuntos, de tonalidade emocional. O que os une são uma afinidade muito sutil que não consigo entender direito.

Quando a criatura humana, tempos atrás, em um belo dia de sol, provou do fruto proibido, descobriu a diferença entre o bem e mal. Desde então existem comidas boas e ruins, livros bons e ruins, músicas boas e ruins. Da mesma forma são os blogs. Por não se prender a nenhuma forma pré-estabelecida, a nenhum cânone, o blog está para seu escritor assim como a árvore está para a fruta, ou a comida para o cozinheiro. Uma árvore ressecada não dá frutos.

Mas lembremos: comendo a fruta não se deduz o sabor da árvore, da mesma maneira que, ao se comer o cozinheiro, não se adivinha o sabor de sua comida. Mas sem a árvore não haveria a fruta, e sem a fruta o cozinheiro. Enrolei-me, passemos adiante.

Segunda feira haverá a inauguração do livro dos wunderblogs e um novo tempo na história da literatura. Imagino daqui a cem anos nas salas de cursinho. Continuarão ensinando Alexandre Herculano, e referindo ao seu estilo como "solene". Mas acrescentarão nas apostilas os wunder, como os patriarcas de um novo gênero, o post. Serão também os arautos de um novo mundo, de uma exitência mais feliz e melhor, com menos rancor e mais amor.

Eis:

wunderblogs




9:12 PM


sexta-feira, junho 25, 2004
O nome de Severino de Jesus pairou pela cidade como o maior defensor do bidê em solo brasileiro. Sua fama, que mais tarde viria a tomar proporções mundiais, teve início em meados de oitenta, quando ainda proclamava pelas ruas da cidade a utilidade do aparelho. E foi numa destas ruas que o encontrei, pela primeira vez, quando atravessava, após um árduo dia de trabalho, a praça quinze. Vi uma multidão disputando a ombros o melhor lugar para ver, lá na frente, um sujeito moreno, camisa social, o dedo erguido para o céu num gesto de eloqüência conscientemente contida. Versava o sobre bem viver.

“Meus amigos, o bidê não é objeto de luxo como pensam os comunistas. Nem um simples bem de consumo como qualquer outro, tal como pensam os capitalistas. Não, definitivamente não. O bidê é um objeto sublime. Vejamos o esplendor de suas curvas, o brilho fosco do azulejo bem temperado, seu contorno arrojado, sua cor marota. Mas acima de tudo, levemos em consideração sua utilidade prática.

A humanidade ficará eternamente agradecida pela inauguração de uma nova era em que o homem terá queimado o último papel higiênico. Sem dúvida, alguém que ama a si mesmo é alguém abomina o papel higiênico.

E não podia ser de outra maneira. O homem que do papel higiênico faz uso exclusivo é um ser atormentado. Se os grandes monstros da história desfrutassem do bidê a história seguiria por caminhos mais doces. Mussolini largaria tudo para se tornar pugilista. A Alemanha de Hitler seria hoje um jardim de variadas flores.

Mas o pior tipo, o ser mais raivoso, é aquele que, não bastasse o uso do papel higiênico, ainda usa o cor-de-rosa, aquela lixa desumana. Sinto asco só de pensar na imoralidade daquele objeto horrendo, que não absorve nada, e vêm traumatizando centenas de milhares de almas sensíveis. Não é concebível que o homem em sã consciência o use ao seu bel prazer. Só sob o jugo do opressor ou pelo descontrole da razão, um cidadão médio o tiraria da prateleira do supermercado para botá-lo no seu carrinho.

Com efeito, o papel higiênico é mais vezes utilizado como técnicas de auto-massacre. Tem-se notícia que, para se redimir de seus hediondos atos criminosos, Stalin usava-o freqüentemente em acampamentos na Sibéria. E a ciência nós diz que o uso do papel higiênico rosa em crianças vêm a contribuir para o homossexualismo futuro, bem como o uso dos papéis higiênicos aromáticos, com especial atenção aos de pêssego, morango e cereja.

Oh! Meus amigos, não sigam o torpe exemplo dos acadêmicos, que usam suas teses como produto de limpeza. Não! Deus quer bem daqueles que amam seu fiofó. Vejam por exemplo, Pardinho: nunca usou papel higiênico, mesmo no tempo que ainda era roceiro do triangulo mineiro. E eis o segredo da elegância e do bom humor desse ilustre homem: ninguém ama mais a vida do que o homem que faz bom uso do bidê.

Quantas horas de prazer e relaxamento a humanidade não teve em cima do bidê? Mas esse quadro vem mudando a cada dia que passa. Os grandes banqueiros mundiais, após Breton Woods, em sua temerosa tentativa de controlar o mundo, vem diminuindo em doses homeopáticas o valor do bidê na mídia e nas instituições globais. Ato espúrio que escandalizaria todo o séc. XIX. Nunca o bidê foi tão badalado quanto na “belle époque”.

Os argumentos não chegariam ao fim. Que seja gravado na superfície da lua: o homem sobre o bidê é um homem satisfeito. Para ele, a ambição do poder e o fogo da luxuria não lhe consome a mente. Está longe, tão longe do pecado quanto um condor em pleno vôo está dos seres rasteiros e vis que serpenteiam sorrateiros pela terra. A criatura sobre o bidê é quase divina: nela não se encontra nenhum mal. É pura bondade, é pureza, é perdão. Ninguém sente tão profundamente a alegria de viver. Esta em paz, como o Cristão exemplar.

E por que a humanidade tem desprezando o bidê? Simplesmente o bidê é uma ameaça ao status quo. Tentam tapar a boca ao bidê nos meios de comunicação devido à estrondosa revolução mundial que sua justa valorização acarretaria.”

Neste momento, o nosso grande orador faz uma longa pausa e, enchendo o pulmão de ar, como se juntasse forças para lançar ao mundo a idéia que viria a ser a ruína dos pilares da civilização ocidental:

“O bidê, portanto, é infalivelmente o novo substituto da cruz. Isto não implica, evidentemente, no desmerecimento nem do bem nem do Cristo. Pelo contrário, Cristo, sentado sobre o bidê deveria ser grande símbolo dos altares. Algumas gravuras teriam cristo conversando com seus apóstolos, todos eles também sentados em bidês. Teriam os olhos calmos e serenos, discorrendo, no frescor da inteligência, sobre unidade indivisível da santíssima trindade.

Certamente estou ciente de que o bidê, sendo uma invenção moderna, não pertence ao texto bíblico. O mais próximo que se pode chegar dele é o riachinho da aldeia, matéria prima de todo batizado: intuição genial que antevia, dois mil anos antes, a existência do bidê. O elemento que lhes dá união sob o signo da purificação não podia ser outro: a água.

Em nossa nova perspectiva cosmológica e moral, os dois grandes extremos metafísicos são, portanto, o bidê e o papel higiênico rosa. Lógico que refiro ao bidê ideal, tendo em vista a grande diferença de qualidade entre os bidês reais. Do mesmo modo como alguns ignorantes possuem coleções de livros como objeto de decoração, alguns sujeitos, querendo afetar bom gosto, instalam, em seus banheiros, lindos e pomposos bidês, com válvulas douradas e cordões reluzentes. Mas são logo desmascarados pela prática, ao experimentarmos o jato de água se projetar em cone, molhando toda a bunda sem molhar o essencial. Tive o horror de conhecer bidês cuja pressão da água era insuficiente mesmo para se fazer o digníssimo ato de lavar a bunda. A água apenas respingava, muito de leve, sem causar grandes efeitos que não fossem pequenas cócegas.

Não interessa se esses falsários são novos ricos ou não, o que interessa é que a instalação de um bidê não implica em sua utilização.

Nesse instante, os ouvintes estão estupefatos. Permanecem em silêncio durante certo tempo até que toma lugar um alvoroço de vozes. As pessoas na rua expõem suas dúvidas educadamente para seus companheiros, enquanto outros arriscam dirigir sua palavra ao mestre. Súbito, um homem gordo e de bigodes se lança sobre a multidão. Com voz poderosa apresenta o seguinte dilema:

“E quanto ao bidê de mão?”.

“Sim, o bidê de mão é constituído por aquela mangueirinha ao lado da privada, certo? Bom, a sua utilização é, de modo geral, mais desconfortável que o bidê normal, embora apresente algumas vantagens, como o direcionamento manual do jato d’água. Contudo o defeito reside no fato de que a força da pressão do jato d’água não poder ser regulada senão de forma tosca, através do afastamento manual da fonte de água, o que, convenhamos, é coisa mais de um troglodita que de um uma criatura delicada. Mas devo admitir que, embora represente um mal gosto, é perfeitamente aceitável alguém de saúde mental intacta preferir o jato de água manual ao clássico bidê”.

Um estudante de psicologia ali presente, depois de ter feitos comentários repletos de sorrisinhos irônicos para suas amigas, lança ao mestre esta pergunta, com ar de garoto inteligente e bacana da facú:

“Alguém que usa bidê com freqüência tem a propensão de se tornar homossexual?”.

“Não. Pelo contrário, o bidê alivia a tensão da alma e do corpo. E o homossexualismo nada mais é que um modo de aliviar estas perturbadoras tensões que nos afligem cotidianamente, como agulhas fincadas espinhas e nuvens negras ofuscando a clareza da alma. É, entretanto, o modo mais grosseiro, doloroso e desnecessário de se escapar ao mal.

Nesse momento o grande mestre, numa incontida exultação, começa a distribuir estas palavras:

Ah! O bidê é confortável! Refresca no verão e aquece no inverno! É por isso que o gay o é apenas porque o desconhece. Aliás, usa o bidê sim, mas o bidê errado, de forma errada, na hora errada. A base do erro é que tomam sua prática como meio, como instrumento, função, método, e nunca como fim em si mesmo. E ele se basta, eis o sentido mais pleno do bidê.

De fato, um dos preconceitos dolorosos do mundo hodierno, e que se faz passar desapercebido, diz respeito ao reducionismo do bidê às suas funções higiênicas. Este mal tem origem, sem dúvida, com o advento do racionalismo, corrente de pensamento que, por acreditar no poder ilimitado da razão, subordina o bidê a uma escala de valores na qual a privada sai triunfante, como a detentora de todos os louros. Não há idiotice maior que esta.

Por isso, na linguagem simbólica de Avanhandava a privada designa as forças racionais e civilizatórias. Enquanto que o bidê, em contrapartida, é o correlato da elegância.

A privada tem hora marcada pelo relógio da necessidade. O Bidê não. Por isso o bidê também é representativo do livre-arbítrio, da porção sublime do homem. Foi criado para ser usufruído a qualquer hora, bastando, para isso, querer. Existe algo mais gostoso do que acordar, escovar os dentes e ir logo para o verdadeiro trono? Atravessando, deste modo, com o barco do devaneio, o lago indiscernível cujas águas separa o sonho da realidade e a realidade do sonho? O bidê é o verdadeiro alimento da alma e seu principal meio de ascensão: não a música, não a dança, não a arte, mas o bidê, e tenho dito."


6:00 PM



Fui inspirado por um post a mudar. Resolvi mudar de template, para não mudar de nome. Mais tarde, que sabe, eu não mudo de sexo.
2:50 AM



Pulmao Cabeludo segurando um pacu
.
.



2:18 AM



Na passada eu vi um pacu em cima da mesa.

Na quinta feira assei um pacu de dois quilos e meio aqui na minha casa. Recheei a parte interna do peixe de farofa com couve. O pacu, o grande pacu, passou duas horas no fogo brando. É um peixe muito gorduroso, necessita tempo para ficar sequinho. E justamente por ser gorduroso que o pacu é conhecido, pelos meus amigos, como a picanha dos peixes. Se vocês estivessem aqui em casa, poderiam ter certeza: estava bom mesmo. O pacu, de fato, é muito saboroso, é um peixe de rio e tem as características típicas de um peixe de rio. Quem gosta de peixe de rio, do seu inconfundível sabor de barro, nunca nega um pacu. Entretanto, o sabor da costela do Pacu é mais suave que o sabor da cacunda.

Como tempero opcional, preparei um molho a base de shoyo e gengibre ralado, que você podia jogar por cima do peixe.

Não é necessário dizer que não faltaram as piadinhas: “Vamos comer o pacu do Pulmão”, etc.

Quando a assadeira aterrizou na mesa, todos salivaram. Estava lá o pacu, todo oferecido, com sua carne tenra. Depois do pessoal ter provado e aprovado vieram os elogios e as perguntas sobre a receita. Responder a essas perguntas é sempre divertido. No fundo é tudo muito simples, mas é quase uma ofensa dizer que é simples.


Disse, como quem compartilha um segredo, que tinha feito uma pesquisa nas peixarias de Ribeirão e que aquele Pacu, sem dúvida, era o melhor que eu havia encontrado, tinha vindo do Pará (isso é verdade). Nessa hora todos se impressionaram, ninguém esperava que alguém pudesse se preocupar da procedência do Pacu.

O pacu tinha dois quilos e meio, tamanho ideal para o Pacu (nunca compre um pacu com mais de três quilos, ou com menos de um quilo).

Depois disse que havia investigado o peixeiro sobre o processo de conservação do peixe. Disse com tamanha seriedade, que pareceu a todos a coisa mais óbvia do mundo esse cuidado. “A qualidade dos ingredientes é a alma da cozinha” – uma voz retumbou triunfante na mesa, para mostrar entendimento. Todos concordaram.

O que achei mais insólito, na verdade, foi o próprio peixeiro e sua figura. Era um tipo engraçado, parecia o Agostinho da grande família. Disse-me que seus peixes passavam por um tubo de congelamento que fazia com que o peixe, em meia hora, já estivesse congelado. Depois, falou mal das outras peixarias, sobretudo do Carrefour, em que se encontram aqueles peixes que ficam no gelo. Confidenciou-me, já com uma certa intimidade, que os peixes do Carrefour são de cativeiro, o pessoal usa hormônio, e ainda uma substância que espirram no peixe para conservá-lo. “Três dias no gelo, meu amigo, você acha que um peixe agüenta isso?” Já o seu peixe não, vinha do Pará. A certa altura, o peixeiro estava tão empolgado com seu próprio discurso, que começou a relatar a procedência de cada um de seus peixes, abrindo o freezer e me mostrando um por um. Piapara do Rio Grande, piraputanga de não sei da onde, corvina, filhote, tambacú, dourado.

Diante desta situação, senti uma fagulha de orgulho: o peixeiro tinha-me como um grande conhecedor de peixes. Então, ensaiei uma cara séria de entendido em peixes, ou pelo menos de um apaixonado pela pescaria, e comecei a gastar todo o meu conhecimento no assunto, arriscando palpites e comentários:

“Realmente, hoje em dia está difícil pescar no mato-grosso, a pesca predatória está acabando com os peixes da região. Há dez anos atrás, que beleza!”. (Depois fiquei preocupado, minha idade aparente não me permitia falar nem de sete anos atrás).

“Tem dourado aí? O dourado é um peixe delicioso, pescá-lo então é uma beleza! Ô peixe brigadô!”.

Depois, discutimos sobre a receita do caldo de piranha, e o problema dos espinhos. Mas para frente já compartilhamos daquele ar confidencial dos amigos de longa data ao discutirmos sobre a validade ou não do coentro na moqueca.

Mas não sei se era exatamente isso que eu queira falar, meu plano era falar sobre a arte de vender o peixe, uma das artes mais importantes de que tenho notícia.

2:01 AM


quinta-feira, junho 24, 2004
Nunca
3:11 AM



Bunda boa.
2:21 AM


quinta-feira, junho 17, 2004
A psicologia dos Pré-Socráticos

Uma pessoa que gosto muito disse-me que se eu continuasse escrevendo sobre certos assuntos eu acabaria tendo-me como único leitor.

É triste. Gostaria de ser muito popular, amado por todos. Gostaria que uma multidão de gente me esperasse no aeroporto, com faixas dizendo que amam e me adoram. Mas enquanto isso não chega, fico aqui, em casa, a pensar sobre a psicologia dos pré-socráticos.

Falar de Pré-Socrático está na lista negra, só me levará ao anonimato. Mas, de vez em quando, sou tomado por forças estóicas a seguir o caminho da verdade, e devo admitir que praticamente desconsidero todo conhecimento filosófico de Sócrates para frente, incluindo Nietzsche.

Não é à toa que gosto tanto, estudei muito para chegar aos pré-socráticos e perceber o tanto que é verdadeira, por exemplo, a seguinte afirmação, de Heráclito:

"É prazer para as almas tornarem-se úmidas."

ou:

"A alma mais seca é mais sábia a melhor."

Não há relativismos. É de uma estarrecedora pontualidade e exatidão. Não entendo porque a FUVEST não apresenta perguntas como a seguir:

1) Qual alma é mais sábia e melhor?

a) a úmida.
b) a seca.
c) a que segue o imperativo categórico.
d) alma não existe, portanto, a pergunta não faz sentido.
e) nenhuma das anteriores.

Não devemos esquecer que é grande prazer para as almas se tornarem úmidas, o que revela que Heráclito já sabia que o caminho do simples prazer não é o melhor.

Provas:

"Na hora do prazer a gente sente a alma umidecer, e sentir a alma umidecer é gostoso, realmente. Mas logo depois dá um grande mal estar, o que os vulgos chamam de ressaca. É dificílimo secá-la novamente. Sei de um padeiro que teve sua alma tão umidecida numa noite de Carnaval, que precisou passar toda a quaresma, a água e pão, para secá-la novamente."

Juremar.

Nelson Rodrigues constata que nada como o prazer do sexo para se gerar o canalha.

E se isso não convence lembro que em The Waste Land, de T.S. Eliot, os títulos da terceira e da quarta parte do poema são, respectivamente:

"O sermão de fogo" (alusão à Heráclito: tudo é fogo).

"Morte pela água" ( o hedonismo absoluto, típico daquelas pessoas que buscam viver o hoje como se fosse o último dia, se eu vivesse assim, com certeza já estaria morto há muito tempo).



2:52 AM



Comoção

Sempre me comoverá a imagem de uma menina com vestidinho de chita de mãos dadas com um menino que acha feio amar.

Escrevo isso porque mudei o servidor da caixa de comentários.

2:46 AM



Antes, uma a cada três mulheres era viúva-moça

Gosto de pensar em certas imagens que às vezes encontro pela vida. Tem uma que gosto muito, embora consciente que ela não reverbere na alma de um homem moderno, como hei de explicar mais adiante. Refiro-me a seguinte imagem ou cena: uma mulher dançando um samba fervoroso sobre a tumba de seu finado marido.

É, sem dúvida, uma imagem forte. Nem é necessário sabermos se ela está feliz ou triste, nem o motivo porque dança. Você entra no cemitério, vai até o túmulo do morto no qual quer prestar homenagem com suas lágrimas e encontra, no túmulo ao lado, uma mulher dançando um samba fervoroso sobre o túmulo de seu finado marido, desprezando ou ignorando sua presença. É uma cena em tanto.

Sinto nesta cena o cheiro do passado, um vago odor de naftalina. Evoca um tempo em que Tancredo Neves ainda era criança e jogava peão com Raul Pompéia no Ateneu. Era um tempo muito diferente do nosso, um tempo em que se econtrava pelas ruas a chamadas “viúvas moças”. Todo mundo que leu um pouco de Machado de Assis sabe que em sua época uma cada três mulheres eram viúvas moças.

Hoje em dia a viúva moça está, digamos, tão extinta quanto o panda ou um macaco-aranha, para a infelicidade dos mancebos em geral. Repito: para e infelicidade dos homens. Nenhuma mulher tão interessante quanto a viúva moça. O olhar esquivo e seguro. Suas magníficas espáduas, sua tez áurea como o marfim, a gentileza do busto, e ainda, a herança do marido.

Mas não é só. A viúva moça, meus amigos, tem algo de fatal. Algo de deliciosamente perigoso. A sombra do defunto sempre segue seus passos, imprimindo-lhe uma aura de tragédia que a acompanha sempre e sempre a acompanhará, como uma ferida aberta que jamais cicatrizará. Sua postura imponente exala um ar de quem nunca mais amará a ninguém, embora o fogo da volúpia e do desejo, ainda arda em seu coração de moça, e a faça, vez por outra, cometer loucuras.

Oh! Quantos gatunos de carteirinha já não perderam a cabeça por uma viúva moça! Nos bailes dúzias de vítimas ressentidas fitando seu decote. E ela, desimpedida, rica, luminosa, valsando com um lindo mancebo, como se fosse a rainha de antigas Franças. Ninguém é tão livre quanto ela.

Bom, lembro que uma tia minha foi uma viúva moça, chamava-se Ana. Seu marido morreu pouco tempo depois do casamento, deixando como herança apenas um vazio no peito e uma tristeza que perdurou durante anos. Morreu de cirrose o homem, ou foi pancreatíte? Não importa, foi o álcool mesmo. Poucas lembranças tenho dele, mas são boas. Levava eu e meus primos para pescarmos e nadarmos no Lago Azul, um clube cuja atração era um lago, aliás, a única atração. O clube era o lago. Mas naquela época nós não precisávamos mais do que um lago para ser feliz. Um lago, uma vara de bambu, e a alegria de sentir a fisgada de algum lambari.

E assim minha tia encontrou-se só, numa enorme casa. A casa tinha um um vasto quintal, com uma piscina, um limoeiro, e uma parte coberta. Passados alguns anos a casa da minha tia “viúva moça” ficou conhecida na cidade pelo furor e despudor de suas festas. Nós achávamos nossa tia meio loucona mesmo, de uma animação sem igual.

Certa vez, meu primo, tentando se vingar de seu irmão mais velho, dedurou-o para sua mãe, como um pequeno Cain:-“O Júlio tem revistas pornográficas.” Nisso, minha tia Ana, que estava por perto, antecipando a reação de minha outra tia, disse: “Hum! Que gostoso! Quero ver!” Assumiu nesse dia, para o espanto de todos, que gostava de homem, no sentido carnal da coisa. Eu e meu primo ficamos chocados com minha tia, com seu despudor, com sua inclinação ao pecado.

Tia Ana foi uma das mulheres mais livres de Penápolis na década de oitenta e começo de noventa. Nem preciso fechar os olhos para lembrar-me do seu riso, aliás, da sua gargalhada irreverente e contagiante. Talvez seja exagero, mas ela é uma das poucas pessoas a que verdadeiramente posso chamar de irreverente.

Tão extinto quanto as viúvas moças estão os irreverentes. Em toda a minha vida conheci, no máximo, umas três pessoas irreverentes, todos com mais de cinquenta. Não tenho nenhum amigo irreverente, nenhum colega irreverente, ninguém. O que se tem hoje é gente podre, gente descarada, sem vergonha na cara. Muito diferente de ser irreverente.



2:41 AM


quarta-feira, junho 16, 2004

1:20 AM



O burro ao olhar no espelho vê um gênio

O crítico acredita que o que é mais importante para si o é também para autor da obra que ele examina. Parte da noção de que ele sabe o que é mais importante e que o autor, sendo tão inteligente como ele, obviamente compartilha da certeza de sua opinião.

Assim, os sociólogos encontram, ao analisarem Machado de Assis, somente denúncias sociais. Os psicanalistas, por seu turno, quando lêem sua obra, encontram somente gays, edípicos, histéricas e outras figurinhas.

Outros, como tive o horror de conhecer recentemente, buscam em seus romances e contos a má colocação do pronome oblíquo, para, deste modo, provar que Machado não é tão bom assim.

E com isso provam, única e exclusivamente, que são uns patetas. Assemelhando-se a alguém que se propõe medir o do outro para provar publicamente, com sorrisos de triunfo, que não era tão grande assim, tinha vinte e três ou vinte e dois centímetros.

Existe, aliás, uma manada galopante que, quando abre o focinho, é para tentar provar que fulano, beltrano, ou siclano de tal, não têm 25 centímetros. Já alguns animais mais delicados ganham a vida para dar a ilusão dos vinte e cinco centímetros. É o caso dos publicitários, sem exceção.

Atribuem vinte e cinco centímetros a tudo, desde que pagos para isso. São a encarnação viva de Satã. São piores que os advogados de Paulo Maluf, bem piores, e queimarão no inferno.




12:58 AM


segunda-feira, junho 14, 2004
Dialética

Os novos conhecimentos, quando filosóficos, geram novas perguntas; quando científicos, novos experimentos. E os novos conhecimentos assim obtidos, novos conhecimentos; e os experimentos, novos experimentos. Terá um limite?

Embora alguns cientístas debatam sobre o fim da física, a verdade é que ela nunca parou de se desenvolver, nem parará. O corpo do conhecimento assemelha-se a de um ser vivo, está continuamente em processo, em estado de transformação.





1:30 AM



Vida tranquila

A vida é tranquila para quem aceita, de bom coração, a morte.

1:28 AM


quinta-feira, junho 10, 2004
Supra-sensível

- Estou já faz um mês rodeado por duzentos fantasmas.
- Isso realmente não é bom.
- Se fosse para escolher, preferiria ter menos fantasmas, duzentos é muito. Não dá para aguentar.
- Mas são duzentos exatos.
- Não exatamente, é muito difícil contar, mas digo que é cerca de duzentos.
- Bastante mesmo hein!
- É, meu amigo, é muito. Incomoda a beça. Ontem mesmo, eu ia entrando no banheiro e não é que encontro um fantasma usando a privada.
- Que horror!
- Isso é de menos. Ele era a cara do Tony Ramos. Encontrei ele outras vezes já, a vantagem é que não fala muito. Mas é duro ficar aguentando o Tony Ramos te seguir.
- Foda mesmo.
- Tem outro fantasma, que talvez seja o pior de todos, do Sérgio Malandro. É horrível! Outro dia estava futricando com uma mulher e ele chega, fazendo gestos obscenos com mão. Outra vez, pouco antes de dormir, fez um escarcéu lascado, ele e as malandrinas começaram a encenar um bumba meu boi no quarto, coisa de dar medo. Outra vez apareceram de madrugada dançando tchã tchã e acendendo pirilampos numa espírita.
- Meu Deus!
- O pior é que o fantasma de Sócrates, aproveitando o embalo da farra, vinha encoxando uma das malandrinhas, num gesto inconcebível para um filósofo da sua altura.
- Vai ver ele mudou de idéia depois morreu, resolveu dar mais importância aos prazeres do corpo.
- Realmente, deve ser isso. Sócrates mesmo veio me dizer, certa vez, que era assíduo frequentador dos bailes funks e grande admirador do Serginho. Tenteu sustentar que muito melhor que sua célebre frase: "Sei que nada sei", muito mais genial é "Abre a boca, não se espanta, vou (censurado) na sua garganta."
- Meu Deus! Às pessoas mudam mesmo.
- Sim. Diógenes, o cão, hoje em dia tem o apelido de "fofinho", toma no mínimo dois banhos por dia, e dá escândalo quando fica sem condicionador.
- Esse mundo dá vorta mesmo né cumpade.
- Opa!

4:51 AM


terça-feira, junho 08, 2004
Yeats

Um fragmento de "The second coming" de Yeats, poema que alude ao fim do segundo milênio. Duas grandes-guerras, terrorismo, pós-modernismo, fanatismo religioso, ateísmo disfarçado ( a maioria dos religiosos não passam de ateus disfarçados).

"The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity."


2:06 AM



A compreensibilidade

Pode-se dizer que o eterno mistério do mundo é sua compreensibilidade

Lógico que a compreensibilidade tem seus limites, a razão não pode ditar uma moral necessária. O bom senso sim. Uma moral pode ser insensata e racional ao mesmo tempo, mas será uma moral intelectual. A verdadeira moral é essa que vivemos, assemelha-se mais a um campo de sentido do que um campo de palavras. No fim do século XIX alguns cavalheiros davam o cu por pura educação e, terminado o ato, discutiam soluções para as antinomias kantianas. Deus, a alma, a extensão do universo, além de outras sete. Prova-se que o universo é infinito e finito. Toda proposição puramente metafísica são tautologias ou contradições.

Falemos do mundo, das pessoas, das cores, das impressões, da velocidade da pincelada, do ritmo, no contorno do horizonte, falemos do mundo, deste mundo, tão usado, em que vivemos. Deus é questão de fé. “A crença ilógica na ocorrência do improvável”. Mas que existe, existe, não me pergunte porquê nem como, senão eu fico nervoso, começo a babar, giro os olhos e termino por pancadas na mesa e tacando o abajur contra a parede.

1:55 AM


segunda-feira, junho 07, 2004
Petrarca

Li e gostei.
Petrarca.



4:03 AM



Heráclito

"Aquilo que é oposição se concilia, das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia e tudo se gera por meio de contrastes.(...) Eles(os ignorantes)não compreendem que aquilo que é diferente concorda cosigo mesmo; é a harmonia dos contrários, como a harmonia do arco e da lira".

Se a única cor fosse o amarelo, o amarelo não existiria.
Se o som fosse uníco, o som não existiria.
Se não existisse luz não existira as trevas.
A doença, a saúde.
Se não fosse a frustração, a "eu" não se formaria.
Se não existisse o velho, o novo não existiria.

Tem-se, portanto, que a harmonia é a unidade dos opostos. O princípio organizador da realidade é o mesmo princípio organizador da mente.



3:16 AM



Uma das mais belas sentenças sobre a alma

"Nunca poderás encontrar os limites da alma, por mais que percorra os seus caminhos, tão fundo é o seu logus."

Heráclito


3:10 AM


sábado, junho 05, 2004
Ela

Quando ela me anunciou sem frescura na voz que qualquer recorte da realidade quando bem percebido e bem analisado pode ser bem envolvente e intrigante, fiquei espantado e tive vontade de tal idéia fustigar.

Suponho que meu espanto não seja nem à toa nem apenas por mim compartilhado. Vejamos: uma caneta. Ah! Quantos pressupostos! Quantas implicações estão contidas numa simples caneta! Quantas as condições são necessárias para a sua existência! O cálculo nunca chegaria a um fim. Economia. Petróleo. Plástico. Consistência da matéria. Existência do papel (afinal para que a caneta sem o papel). Quer dizer: a caneta traz em seu interior o mistério do mundo, assim como a mulher traz ao mundo o mistério do amor.

Satisfeito com a precisão do pensamento de minha amiga, confessei-lhe que eu a amava e que, com ela, um filho queria ter. Ela, por sua vez, sorriu um riso monalísico, deu-me um beijo a um canto da boca e se retirou de mansinho, dispersando até se tornar borrão. Mas ainda ficou no ar um pouco de seu perfume.

12:55 PM


sexta-feira, junho 04, 2004
I.J.G.D

O grande Petronas, numa analise sócio-econômica das mais brilhantes, usa, como termômetro de desenvolvimento de um país, a quantidade de Jorginhos Guinle nele encontrado. Seu argumento, de uma solidez inabalável, mantém-se imune aos ácidos das mais terríveis dialéticas.

Se todo empresário usar seu lucro apenas para gastar e não para reinvestir, sua empresa não cresce. Se todos os empresários agissem de tal maneira, uma expansão do setor produtivo se tornaria inviável. Nesta sociedade o único resultado de qualquer política de fomento econômico seria a inflação.

A voz de Petronas, grande centro de reverberação, faz tremer as rijas pilastras universitárias, fato esse no mínimo notável, se levarmos em conta a surdez dos doutores e pós-doutores, causada por chumaços de pelos que saem de dentro dos ouvidos. Felizmente, até agora, a verdade vem se impondo. Já não é incomum escutar nos corredores de uma faculdade de economia a sigla I.J.G.D (Índice Jorginho Guinle de desenvolvimento).

As últimas pesquisas, por exemplo, apontam para uma proporção I.J.G.D de um para dois entre Brasil e Malásia. O índice tornou-se tão útil e revelador que já se cogita, inclusive, a possibilidade de um novo índice, o P.J.G (potencial Jorginho Guinle), ilustrado da seguinte forma.

Os últimos levantamentos do I.B.G.E. apontam para o curioso fato de que uma grande parcela da população brasileira não herda grandes fortunas. Mas, caso herdasse, o que faria com o dinheiro? Aqui que entra o potencial Jorginho Guinle (P.J.G). O do Brasil, não precisa falar, é altíssimo, um dos mais altos do mundo: noventa e dois por cento dos brasileiros, diante de uma vasta herança, agiriam da mesma forma que o Jorginho. Seis por cento dos entrevistados se mostraram indecisos quanto à atitude, ou se negaram a responder. Só dois por cento afirmaram que reinvestiriam uma parcela do dinheiro em atividades produtivas.

Esperamos que Petronas venha a dar mais contribuições para o desenvolvimento do pensamento ocidental. A sociedade acadêmica espera seu atestado, para saber se o P.J.G. é válido ou ainda necessita de reparos metodológicos.

7:58 PM


quinta-feira, junho 03, 2004
A fórmula

Os bons blogs são compostos por uma mistura de inteligência, humor e vaidade.

Humor compreendido segundo a doutrina de Hipócrates.

E vaidade sendo compreendida ao estilo dos analistas morais do séc.XVII, diferenciando-se, portanto, do sentido vulgar do termo. Não remete à noção de abdômen quadriculado, nem implica no uso de roupitcha de grife.


4:58 AM



Da pantufa e a Lei dos Trinta Centímetros

Num apartamento, emerge a seguinte frase:

"Mulher feia é igual pantufa, em casa é gostosinho, mas quando sai na rua dá uma vergonha!"

A frase é interessante e reveladora.

Em primeiro lugar, diz que a beleza de uma mulher só é importante quando você sai na rua com ela. É por isso que é muito raro encontrar um homem com uma mulher feia na rua, tão raro quanto encontrar alguém de pantufa.

Em sugundo lugar, é possível deduzir que, assim como as pantufas, as mulheres feias vivem pegando no pé (dedução facíl, de trocadilho evidente, evidemente besta).

Uma mulher feia pode argumentar que não necessita de homem na rua, na medida em que, na rua, não é usual foder. Erro na argumentação: não é correto pensar que mulher feia só pensa em foder, mulher feia também gosta de carinho.

É também possível deduzir da frase, tomando-a como premissa, que a mulher feia é sim capaz de despertar o desejo sexual, desde que ela esteja nua ou semi-nua, e co-habitando o mesmo espaço que o homem, ou melhor, o mesmo aposento.

É a famosa "Lei dos trinta centímetros", estabelecida pela primeira vez no ano de 2001 D.C, por Ciro (1978-). Este grande pensador teve o lampejo da idéia após ser trancafiado num quarto com uma mulher de dezoito aninhos, rostinho bonito, um metro e sententa e cem quilos. São suas palavras:

"Minha primeira reação foi tentar ir embora, mas as amigas da república haviam nos trancado no apartamento. Então ela deitou-se na cama e começou a mostrar aquele vasto pernil. Aquilo tudo começou a me parecer interessante, achei, à princípio, que era a maneira como a luz refletia nas suas coxas, ou o simples fato dela usar saias curtas. Aproximei-me e percebi que, passado a barreira dos trinta centímetros, toda mulher é a mesma."

4:01 AM



Imprevisível

Um bom blog, de uma sensibilidade deliciosa. Alguns de seus posts podem, inclusive, gerar espasmos.

Aqui

3:25 AM



Ateísmo e Utopia em Santo Agostinho

A quantos é dada a possibilidade de Santo Agostinho? A de afirmar, em coros ditirâmbicos, a morte de Deus. “Deus está morto” conclui ele numa escura, tediosa noite de solidão absoluta. Não constitui um ato de coragem, nem de revolta, também não o faz porque é chique, mas simplesmente porque a negação racional de Deus habita o reino da evidência. A razão, lúcida de si mesma, cala-se diante de Deus.

Depois de anos de meditação angustiada, Santo tem subitamente um relâmpago lógico. Clarão de certeza que ilumina as estruturas do mundo e o destino nada animador da alma. Deus está fora. E é um matemático que está falando, é um cientista, um homem que, quando pensa, põe, com delicadeza e elegância, seu sentimento de lado. Ele induz, deduz e prova. Seu sentimento serve-lhe, apenas, na escolha dos objetos de que irá tratar. Santo é uma imensa máquina trituradora a devastar as florestas da ignorância.

Seu pensamento, vivendo em rigoroso regime de honestidade, não concede ao Absoluto o status nem de certo, nem de provável, nem mesmo de possível, mas de absolutamente errado. Errado, mas não necessariamente descartável.

Errado mas não necessariamente descartável

Seria correto, portanto, supor que Santo Agostinho seja favorável à utopia atéia? Não resta dúvida, caso contrário seria necessário rotular o pensador como mais uma destas bestas irracionalistas, o que é risível.

Existem, contudo, diferentes sociedades de ateus. Uma sociedade em que seus membros ainda se lembram do conceito de Deus, separa-se, por um abismo, de uma que Seu nome esteja banido do espírito humano.

Estaria morto o último homem que conhecia o conceito de Deus. Todas as pessoas veriam na morte simplesmente o fim. Deus seria apenas um conceito potencial, hibernando nas estantes empoeiradas de bibliotecas ancestrais. Conceito que seviria somente ao estômago de traças e cupins.

Em resumo: duas sociedades são possíveis.

1) Uma que não acredita, mas ainda se lembra de Deus.
2) Uma na qual ninguém mais se lembra de Deus.

Qual das duas seria ele a favor?

Acredito que, por mais contra-senso que isto possa parecer, Santo seja a favor do primeiro tipo de sociedade: uma em que a memória de Deus esteja presente.

Em tal sociedade, a Bíblia seria ensinada nas escolas como mitologia, ao lado de outras mitologias. Aquela parte da Bíblia em que é dado ao jumento o dom da fala seria vista mais como episódio de humor, que educacinal. Mas são especulações. Afinal, todos sabem: “Quem na boca dos outros põe palavras, acaba levando um soco na sua”.

1:15 AM


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