!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
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quarta-feira, julho 07, 2004
Legumes

Hoje resolvi ir ao mercado, precisava de alguns legumes para o almoço. Adoro legumes. Quando eu como legumes, me sinto bem. Não posso explicar perfeitamente o que é se sentir bem.

Perfeitamente, talvez, eu não consiga explicar nada. Sempre penso na hipótese e na contra hipótese. Avalio qual é a melhor. Muitas vezes acontece de não conseguir decidir qual é a melhor.

Vou comprar legumes, sei disso. Mas antes de tomar tal resolução, pensei se não seria melhor fazer um belo macarrão com carne moída. Tenho carne moída dentro da geladeira, descongelar com microondas é simples. Não. Não vou comer macarrão, macarrão eu comi ontem e hoje não vou repetir. Legumes é melhor, tenho certeza. Não posso mesmo explicar ao certo porque tenho tanta certeza de que quero comer legumes, mas que tenho certeza, tenho.

Um cafezinho e um cigarro antes de ir comprar carne moída seria uma boa coisa a se fazer. Tem só um problema: acordar já partir direto para o cigarro e para o café pode ser prejudicial. Não que eu dê importância à saúde, dou importância para meu bem estar. Percebi que estava com sede. Resolvi, então, por via das dúvidas, começar o dia com a substância que eu mais confio, a água, de preferência a que habita no filtro.

Todos os copos estavam sujos. A bucha, soterrada no meio de pratos, repugnava minha mão. Então selecionei, em um instante, qual era o copo mais limpo e resolvi pegá-lo, passei nele apenas uma água e fiz minha própria mão de bucha.

Em seguida preparei o café e acendi o cigarro. Fumava e bebia o café. O café estava meio sem açúcar, um pouco mais seria melhor, mas não tive vontade de levantar para mais açúcar. Pensava em ir para o mercado. Sim o mercado. Tenho muita coisa para fazer hoje, depois que for comprar legumes. Será que vale a pena comprar legumes? Se comprá-los, terei que prepará-los e resultará que terei que comê-los muito tarde. Ainda mais, terei que os lavar os legumes e os pratos, ainda, terei todo trabalho da digestão. Digerir talvez seja a melhor parte, tendo em vista que legumes são de fácil digestão comparativamente com carne, gorduras e frituras. Mas isso não é importante. Na verdade não sei porque estava me preocupando com essas coisas fúteis. Deve-se comer pelo sabor, e a comida deve ser gostosa. Gostosa. Os prazeres da mesa são importantíssimos. Legumes com um gostoso arroizinho seria ótimo. É uma comida leve, digeriria rápido e estaria pronto para fazer o que tinha de fazer.

Era Sábado. Fui a pé a mercearia. Assim que entrei no raio de ação do velho gordo e dono que atendia comecei a disfarçar e a olhar os produtos da prateleira. Enquanto isso, ele fingia de desinteressado, com o ar de quem está ali por acaso. Assim que entrei, olhei para o chão, soltei um murmúrio assemelhando-se a um comprimento. Em seguida um pergunta veio a minha mente. Será aquele comerciante velho fazia questão que eu o cumprimentasse com gosto?

Um dia fui a sua mercearia comprar um cigarro e ele me disse que não havia mais cigarro. Perguntei ao velho gordo onde havia um outro bar que vendia cigarro, ao que ele prontamente respondeu.

Como havia dito que depois de comprar o cigarro voltaria lá para pegar as cervejas, me pediu um favor, que aproveitasse a viagem e comprasse cigarro para ele no bar, ele abateria o cigarro do preço das cervejas. Sem problemas. Depois que comprei o cigarro e retornei ao estabelecimento, entreguei-lhe o cigarro. Então olhou para mim disse “obrigado” e eu disse automaticamente “obrigado a você”, então percebi o erro na resposta. E, já louco para ir embora daquele local, murmurei, muito baixo, tão baixo que nem eu mesmo pude entender: “de nada”. Fui embora, caminhando sobre meus tênis e meus tênis sobre o asfalto.

O velho, com certeza, percebeu como eu o tratava ao dizer “obrigado a você”. Havia escapado, sem dúvida, mas são as séries dos pequenos atos que revelam as pessoas. Se escolhesse, teria falado sincera e naturalmente “de nada”. Mas não. Agora ele teria certeza que eu não me preocupava com ele, revelando nossa relação falsa de amizade puramente baseada no comércio. Era a prova final que ele necessitava, tratei-o como um bicho, como um autômato. Deixei claro que sua palavra não tinha o menor valor para mim.

Mas não éramos amigos, isso é obvio. Porém seria melhor se gostasse de mim. E eu entrasse feliz pela porta, olhasse para ele, e dissesse em alto e bom tom “bom dia”.

2:02 AM


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