!> !> Pulmão Cabeludo
Um ser que participa do Todo e tem saudade do tempo que não foi, mas sabe que um dia nele irá se desmanchar, e flutuar. Porquanto participo da sopa divina.


























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Pulmão Cabeludo
Alea jacus est
sexta-feira, dezembro 12, 2003
A arte e seu fim

Como disse, não fico exigindo da música coisas tão absurdas como um ganho futuro, seja qual for este ganho. Também não assisto a um filme porque ele me promove uma experiência enriquecedora. Para mim, a única experiência enriquecedora é ganhar na loto. Em suma, nunca tive nesta minha longa vida absolutamente nenhuma experiência enriquecedora, aliás, nunca terei – não jogo na loto, não participo de bingo.

Tudo bem. Sei que exagero. Apesar de limpar a garganta para declarar que é besteira exigir da arte algo mais do que o simples prazer de consumi-la, vira e mexe me pego em flagrante – chacoalhando, como uma besta, a obra de arte, querendo dela algo mais do que o delicioso sabor de seus frutos. E lá estou eu, outra vez, buscando nela uma utilidade que, para falar bem a verdade, nem sei qual é. Você não sabe qual é? Não. Mas isto não me espanta. Sinto que sempre busquei algo que nunca soube o que é. Talvez seja uma resposta a minha angústia, uma forma de preencher o vazio interior. Talvez seja Deus. Quem sabe não é dinheiro? Rola não é, garanto.

De qualquer forma, pensando melhor, não há problema nenhum nisso. Ocasionalmente podemos, quem sabe, fazer uso, num boteco, de uma boa tirada roubada a um livro.

Péssimo exemplo? Então deixa eu dar um pior.


Soltar aquela frase de efeito, “inteligentíssima”, na hora exata em que aquela gostosinha pousa sua bunda na roda de cerveja. ( Sim, estou consciente de que mil frases daquela não valem para a garota uma única música do Djavan, tocada com beiços trêmulos pelo picareta, que sempre está ao seu lado.)

A arte pode até ter uma função, como por exemplo, servir de isca às mulheres, servir de ganha pão a professores universitários, críticos, jornalistas, ou até mesmo para a classe média de barbichinha chafurdar em suas pretensões intelectuais.

Mas, de qualquer forma, estes valores são valores secundários e mesmo, desnecessários. Que essa obsessão de desentranhar todas as coisas em busca de uma utilidade, ou de uma finalidade, ou de uma instrumentalidade, já deixou de ser coisa de perobo, e passou a ser uma doença bem vaporosa, tão vaporosa que nem se percebe amarrada ao uso dos prazeres.

É ela que faz a horda galopante de universitários não encontrar em Machado outra coisa que não a nudez das classes dominantes. É ela que faz gente apreciar o apocalipse só depois de ter a ilusão do entendimento, quando o dragão travestido ovelha passa a ser o poder de persuasão, a mídia, o meio de comunicação, a propaganda enganosa, o coala-peixe-pássaro-mutante, etc.

Parte dois: soluções

Então siga o exemplo de Carlota, aproveite o dia, seja feliz, olhe para os lados e entenda de uma vez por todas que você não está aqui de livre e espontânea vontade.

O desespero de estar vivo, foi este o gosto de Carlinha.

Já Débora olhou para si, e incorporou a festejante irracionalidade que freme em cada átomo de sua consciência.

Catarina, por sua vez, era dessas tipo assim: relaxa e goza.


1:39 AM


sábado, dezembro 06, 2003

5:08 PM


quinta-feira, dezembro 04, 2003
Quando

Estava na praia, tanguinha à mostra, sobre a areia, olhando uma conchinha. O mar soprava bravo a uns cem metro na sua frente. Na conchinha, simetrias estranhas e belas. Na noite, sublime, infinitas estrelas.

A tanguinha na areia. As estrelas no céu. As ondas no mar bravo.

O planeta Terra gira sobre si mesmo para se bronzear por igual, e de vez em quando faz sombra fresca na Lua. As línguas chamam de eclipse um gosto natural por água de coco.

A noite era negra, cheia de estrelas. E negra era a mulher por trás da tanguinha. Negra e magra. Uns setenta anos. Sentada, na praia de Santos, na virada do ano. Uma barulheira infernal. Uma multidão em torno dela. Pintos alcoolizados mijavam em derredor.

Um cheiro putrefato. Peixes e restos humanos. E o mar, muito bravo, espumava sal cisne. A mulher negra de nariz adunco, banguela, fitava a conchinha. Mas não enxergava bem. Rotas retinas ressecadas por trás de uma inocente tanguinha azul.

Vinte anos atrás ficou conhecida na França, dançarina famosa de rítimos exóticos, sangue cheio de paixão tropical. Por dinheiro graúdo, e só nesse caso, passava a noite com um homem qualquer que ela escolhesse dentre tantos pretendentes.

E hoje a encontramos alí, só, em meio de milhares de homens e de estrelas, fitando um mistério transparente. O da simetria estranha e bela da conchinha branca.

12:55 AM



O crítico

Voltando ao tema da arte. Nunca seria um crítico profissional por dois motivos.

O primeiro é que detestaria ficar lendo livros de que eu não gostasse. A minha grande alegria é poder ler apenas o que me dá prazer, abstendo-me da tarefa escrava de analisar, comparar, medir. Prefiro ler um livro, esquecer-me durante horas, gostar e pronto. Já o crítico não. Comporta-se como alguém que, depois de passar o dia inteiro comendo porcaria de boteco, vomita o que comeu para examinar o material. Em palavras mais macias: após passar o dia inteiro lendo rudimentos, já não tem mais saco para ler nada, nem mesmo aquilo que lhe apraz. Passado um tempo, já não sabe mais nem do que gosta. Identificamo-lo nas ruas pela tonalidade amarelada na face biliosa. O resultado final dessa tenebrosa rotina, se praticada por jovens, é o alcoolismo. Nos velhos, a cirrose.

Então o crítico nunca pode gostar do que lê?

Essa é a coisa mais estúpida que se pode pensar sobre um crítico, que ele gosta do que lê. Até hoje nunca li uma crítica elogiosa e boa, simultaneamente. A nota máxima de uma crítica confeiteira é a de corte: cinco. Já as críticas acabando com um livro ou filme ou seja lá que for, por outro lado, são as que prestam, é onde o crítico mostra seu talento. É onde deposita, em forma concentrada, como um animal venenoso, todo o ódio que acumulou do cozinheiro.

A segunda razão por que não me torno um crítico é que não tenho capacidade.

12:28 AM


terça-feira, dezembro 02, 2003
Louvor

Oh! Buda Cósmico, tú que és o Bitelo,
Acalentai minha alma ávida de elegância.

12:09 PM




A verdadeira face de pulmão cabeludo.

2:30 AM



Gorda

Gorda é uma mulher que prefere comer a ser comida.

2:28 AM



Wilhelm Reich

O neurótico é incapaz de gozar. Ou melhor dizendo, não consegue gozar gostoso. Ao menos é o que Reich sustenta. Como ele ficou sabendo disso? Prefiro não imaginar. Tudo bem, já que toquei no assunto, fica deselegante escapolir dessa maneira. Então vamos lá.

Com quantos homens e mulheres ele teve que transar para ter uma amostra estatisticamente considerável?

No mínimo uns quinhentos de ambos os sexos.

Acredito que deve ter sido muito difícil para ele conseguir sujeitos para a sua pesquisa. Talvez, pelo bem da ciência, ele tenha usado métodos não muito convencionais. Imagino que suas pesquisas eram mais ou menos assim.

Reich vai à boite começa a dançar, conhece uma mulher. Os dois vão ao motel. Acabado o fururu, entra a parte mais complicada da pesquisa. Ele deve avaliar, de algum modo, a qualidade do gozo da parceira:

“Foi bom para você?”

“Foi ótimo, eu me senti nas estrelas.”

“Você tem certeza?”

“Tenho, eu estou falando, eu adorei.”

“Mas parece que seus músculos faciais estão meio contraídos”

“O que?”

“Além disso, não sei... pode falar o que você pensa de verdade, eu não vou ficar magoado, afinal é nossa primeira vez, e todo mundo sabe, a primeira vez nem sempre é tão bom, a gente fica meio inibido, sei lá”.

“Olha, coração, eu estou falando a verdade, eu gostei muito... é, ta certo que é a nossa primeira vez, talvez dê pra ser melhor.”

“Ta vendo”

“O quê?”

“É que eu senti sua respiração um pouco contida.”

“O quê, eu achei que você estava gostando, e você ficou prestando atenção na minha respiração. Além disso qual o problema da minha respiração?”

“É que ela tava meio presa, achei que você prendia o ar no pulmão...Deixa para lá, eu posso tirar uma foto sua?”

“Uma foto? Para quê? Você já não tirou uma antes da gente fazer amor.”

“Sim, é que eu quero uma do depois, para eu recordar desse dia tão especial para mim.”

“Mas você acabou de me dizer que ficou prestando atenção na minha respiração e que a primeira vez não é tão boa assim.”

“Tudo bem, eu vou falar a verdade...”

“Já sei, você tem esposa e filhos.”

“Não, não é bem isso, é que eu estou fazendo uma pesquisa, e queria as fotos para melhor analisar os dados. Tranqüilize-se, é tudo sigiloso, você pode assinar o termo de compromisso se quiser”.

“Eu não estou acreditando, você disse que me amava?”

“Eu não disse isso.”

“Disse sim.”

Coitado do Reich! Essa sim é uma pesquisa difícil. Outra dificuldade é a construção de critérios válidos para saber se a pessoa adquiriu o gozo pleno. E caso não tenha sido pleno, saber ao menos a porcentagem de plenitude do gozo:

Reich: “Eu acho que você não gozou com todo o seu potencial.”

Mulher: “Lógico, olha o tamaninho do seu pau."

"O quê?"

"Tô brincando, Reich."

"Ah?"

"Vem cá, pára de falar besteira, me beija, vai!”

“Não, eu não estou brincando, é sério.”

“Para quê falar sério numa hora dessa, vem cá, fica abraçadinho comigo, ou então fuma um cigarro, relaxa nego.”

“Mas você não quer ter um gozo cem por cento?”

“O quê?”


2:21 AM



Morrer por amor

Um homem que compreende suas emoções se mata por amor?

Não. Um homem que realmente compreende suas emoções nunca se mataria por amor. Pois esse homem não existe.

E um homem que compreendesse um pouquinho, se mataria?

Sim, desde que ele seja um tremendo idiota. Até um catador de papel consideraria o uso deste motivo uma desculpa esfarrapada, um falso pretexto para fingir que ganhou carta branca. Mas, para falar a verdade, a resposta é não, mesmo um homem que se compreende um pouquinho não se mata.

Como assim?

Ninguém se mata pelo amor que sente por alguém. Quando se mata é por amor próprio, mais nada. É de se esperar que quando uma pessoa leva um pé na bunda ela se descabele toda, dê escândalo na garagem, essas coisas. Mas às vezes, quando o caso é grave, o narciso quer levar o teatro às suas últimas conseqüências. E morre, provando que ele era mesmo uma besta.

2:02 AM


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